terça-feira, 23 de dezembro de 2008

CONVERSA DE PROFESSOR

Num levantamento breve em algumas escolas da região, pudemos perceber que a taxa de reprovação neste ano de 2008 aumentou em relação a 2007. Algumas considerações devem ser questionadas nesse sentido.

Talvez os professores tenham imprimido neste ano um rigor maior em termos de aprovação e reprovação, o que a princípio, nos faz considerar que houve uma preocupação com a qualidade na formação dos alunos de escolas públicas. Ou seja, somente passou quem realmente apresentou determinado nível de escolaridade. Mas será que a aprovação e a reprovação são realmente um termômetro de qualidade?

Se aumentou a reprovação, então podemos concluir que diminuiu a qualidade. Ou será o contrário? Se diminuiu a aprovação é porque aumentou a qualidade dos formandos. Acredito que há algumas deficiências de conceito para a escola e para a sociedade. O que significa aprovar ou reprovar?

Primeiro, porque os professores não sabem estabelecer ao certo o padrão de qualidade que está vinculado a aprovação e a reprovação? Segundo, porque os alunos, a grande maioria deles, não sabe concluir que a reprovação deveria ser um sinal de qualidade, e portanto, no próximo ano estarão cometendo os mesmos erros.

Gostaria de saber o que se passa na mente dos professores no momento em que decidem se este ou aquele aluno está capacitado a aprovar ou reprovar. Também gostaria de saber o que se passa na cabeça dos alunos quando recebem a notícia de sua reprovação. Acredito que temos uma séria crise de critérios no momento da decisão final.

No entanto não devemos nos preocupar e perder as férias pensando naquele aluno que reprovou. Se ele reprovou, é porque não possui notas satisfatórias, brincou e desmoralizou as aulas durante o ano e não demonstrou interesse em ser aprovado no final do ano letivo.

A própria vida é uma aprovação e reprovação. Somos reprovados no emprego, na sociedade, na família. Muitos patrões reprovam seus funcionários constantemente. Consiste justamente aí um dos pontos positivos da reprovação: ela deve servir como uma advertência, um aprendizado, um termômetro.

Em muitas famílias que possuem filhos que reprovaram na escola, não encontramos uma ação disciplinar para conscientizar os reprovados. Professores e pais jogam no mesmo time, a aprovação ou a reprovação deve ser exigida e trabalhada por ambos.

O que devemos deixar claro para os alunos que reprovaram, é que os professores durante o conselho de classe levam em consideração diversos fatores. Para ser sincero, se leva em consideração demasiadamente aspectos da vida do aluno: condição social, familiar, etc. “Na escola ele é um péssimo aluno, mas vocês precisam ver como ele trabalha no emprego dele”. Essas considerações sempre estão presentes. A pobreza e a situação familiar não deveriam ser as desculpas dos alunos por irem mal na escola.

Freqüentar uma escola deve ser um ato de responsabilidade. Ser indisciplinado na escola e disciplinado no trabalho é uma incoerência praticada por alunos que desconhecem o verdadeiro valor do conhecimento e da escolaridade.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

À procura de um sentido - por Edinaldo

Ah! Triste homem, que entre dúvidas e devaneios se perde em si mesmo.
Que nessa busca pela razão de ser encontra ainda mais perguntas.
Pensei que sabia algo, pensei que sabia quem eu era.
Num instante tudo tinha se transformado e o que era meu não mais era,
E o que eu era não sou mais.

Descobri nesse questionamento infindo que sou vários e nenhum.
E nessa variedade de mim não consigo entrar em acordo comigo mesmo.
Num instante sou eu e no outro sou eu novamente.
E esses eus tão anacrônicos e tão similares que me constroem desconstruindo-me.

Nessa descontrução-construção-descontrução aparecem seres desconexos que insistem em me desconstruir-construir.
E esses seres dizem que eu preciso me achar me perdendo e me perder achando-me,
Isso me deixa ainda mais atordoado.

Ah! Incerteza!

Sei que hei de morrer, mas uma coisa, ao menos uma coisa eu gostaria de saber:
Que influência eu tenho sobre mim mesmo que não vem de alhures, pois se tudo que me costrói-destrói-constrói vier de alhures eu não sou eu, sou apenas reflexo de alguma coisa.

Se sou reflexo de alguma coisa... Ah! Tristeza... Que coisa é essa?
E assim vou me questionando e em devaneios não sei mais o que sou nem o que sinto.
E nesse sentindo sinto que sinto uma centelha do infinito que é tão finito quanto eu.
E nessa minha finitude procuro desesperadamente me encontrar ou te encontrar, coisa, Antes que seja tarde...

E no alvorecer de mim me escondo de mim mesmo com medo de saber que coisa é essa, e assim quem eu sou.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Gravação de rádio-novela em estúdio


Alunas do Ensino Médio da Escola São Vicente gravaram no estúdio da Rádio itapiranga a rádio-novela que foi desenvolvida nas disciplinas de Artes e História. Cada equipe deveria escolher um tema da história e desenvolver uma rádio-novela.
O grupo fez um texto que desenvolve o tema da Inconfidência Mineira. Foi uma experiência incrível tanto para os alunos, como para os professores. O resultado do trabalho está gravado em CD e ficará disponível no arquivo da escola. Agradecemos o técnico de som Julian da Rádio Itapiranga, pela ajuda na gravação da rádio-novela.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Conversa de professor

“Por que eu vou entrar para a história?” essa foi a questão que lancei para meus alunos do Ensino Médio. Surpreendentemente muitos não sabiam responder ou até mesmo não tinham a menor noção, de que eles, como sujeitos instruídos, são pessoas capazes de entrar para a história.

Deixei claro para eles que, entrar para a história não significa necessariamente ser o presidente da república ou um astro de novela. Para entrar na história é necessário simplesmente ser uma pessoa que faça a diferença, em qualquer coisa. Aliás, não sei e é tão simples assim fazer a diferença, porque, se fosse simples, a maioria dos alunos saberia responder.

A grande questão é que, uma parcela muito grande das pessoas não possui qualquer tipo de projeto ou intenção de se tornar uma pessoa que faça algo inovador, audacioso, surpreendente. Essa tarefa de ser uma personalidade que ficará na história não é para qualquer um. Sinto isso em mim, e você amigo professor e estudante, certamente tem o mesmo sentimento. É muito mais fácil levar uma vida tranqüila, sem stress, ganhando seu salário base, sem incômodo.

Ser alguém que faz a diferença é conviver com o incerto, com o risco de errar, com a vontade de buscar e acreditar.

Dessa forma, se pensamos em como entrar para a história, temos de ter uma espécie de um termômetro do que me faz ser uma pessoa diferente das outras. É necessário ter parâmetros se o meu estilo de vida está igual, inferior ou superior ao dos outros.

Professores, vocês já pararam para pensar se as tuas aulas estão melhores comparadas as de seus colegas? Você já escutou a opinião dos teus alunos sobre a tua metodologia de trabalho, sobre o teu conhecimento? Você recentemente já realizou algum tipo de prova seletiva para ter um parâmetro do nível de seu conhecimento?

Sou amante do ciclismo, e nesse esporte podemos ter uma noção exata de como anda o meu treinamento e a minha dedicação ao esporte. Se vou mal em alguma prova do campeonato, preciso melhorar, se vou bem, sinto que meu esforço gerou algum resultado.

É assim em nossas vidas. Temos de ter parâmetros se almejamos ser alguém que deseja entrar para a história, que deseja fazer a diferença. É preciso ficar atento ás metodologias adotadas por outros professores, ao que os alunos falam de nossos colegas. Estar aberto para novas experiências, aceitar críticas e sugestões, é uma excelente forma de nos corrigirmos como seres humanos e como profissionais. A condição de aprendiz deve ser uma virtude para o professor.

Então amigo professor: por que você vai entrar para a história?

Frase da semana: “Para poder chegar onde se quer tudo depende de onde se esteja.” José Saramago.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Reacende a chama da esperança

A eleição de Barack Obama nos Estados Unidos novamente mexeu com as estruturas do mundo. Pessoas de todos os cantos do mundo trocaram horas de sono para acompanhar a apuração em tempo real, o mercado financeiro ficou novamente agitado (e, sejamos francos, quando o mercado fica brabinho é necessário ter preocupação), presidentes do mundo inteiro reiteraram que esperam ter uma boa relação com o novo presidente norte-americano (assim como todo adolescente quer ter uma boa relação com o garoto mais forte da escola). As más línguas já professam por aí que o negro Obama foi eleito graças à quota para negros. E os republicanos conservadores norte-americanos insistem em dizer que Obama é um comunista porque pretende dividir a renda entre a população.
No entanto, é preciso destacar que a eleição do descendente de africanos, mais precisamente de um clã islâmico de uma pequena vila do Quênia, significa muito para a história da humanidade. Sim, porque podemos esperar poucas novidades de Obama em termos de economia. Ou alguém de vocês espera um presidente norte-americano bonzinho, capaz de perdoar as dívidas dos países pobres e amenizar as tarifas alfandegárias? A sociedade americana não vai permitir um presidente assim, e o Obama sabe disso.
O que podemos esperar, talvez seja um retorno de relacionamentos, evidentemente tímidos e graduais, com inimigos históricos como Venezuela, Bolívia, Cuba e Irã. Política do presidente bonzinho, estilo Lula.
No entanto, precisamos estar atentos para o momento histórico que estamos atravessando. Jamais um negro chegou a ser presidente dos Estados Unidos. Assim como tivemos novidades quando um índio assumiu a presidência da Bolívia e um operário assumiu a presidência do Brasil. Está a humanidade a empreender novos valores? Será que enfim o proletariado e as massas oprimidas estarão chegando ao poder, como previu Marx?
Creio que não!
Mas o que o governo de Obama sinaliza executar em seu governo, é construir uma imagem diferente do país norte-americano. Talvez seu maior plano de governo seja tirar a bandeira dos Estados Unidos das centenas manifestações ecológicas ou econômicas que ocorrem ao redor do mundo, e evitar que ela seja queimada por sindicalistas, ambientalistas e profetas da paz.
Vejam bem, os Estados Unidos foram responsáveis por inaugurar uma nova forma de fazer guerra no século XX. Foram o único país a utilizar a bomba atômica contra civis e impor restrições taxativas sobre países que não se alinharam com a sua política. Enquanto que outras nações foram julgadas e receberam as punições, como a Alemanha e o Japão, os Estados neste século XX foram os julgadores, os donos da razão. Teria chegado o momento da nação norte-americana tomar a mesma atitude do Papa João Paulo II? Pedir perdão pelos erros do passado? Teria chegado o momento de os Estados Unidos deixarem de ser os julgadores para se tornarem os réus?
Por que não consigo acreditar que Obama vai trazer mudanças? Talvez porque sou apenas mais um rapaz latino-americano, mais um leitor do livro negro do capitalismo, mais um que cresceu ouvindo críticas á dívida externa, mais um que cresceu vendo a bandeira norte-americana ser queimada nos quatro cantos do mundo. Talvez caiba aqui o ditado popular: quer conhecer um homem? Dê a ele poder. E Obama a partir de hoje, passa a ser um dos homens mais poderosos do mundo.
Espero sinceramente que esse presidente negro, seja como aquele outro negro, aquele que disse que tinha um sonho, um sonho de ver seus filhos serem julgados pela sua personalidade e não pela sua cor. O fenômeno Obama está sendo comparado a duas personalidades da história norte-americana: John Kennedy e Martin Luther King. Espero que as coincidências da história não sejam reais, pois os dois antecessores foram assassinados por fanáticos.
Assim como me sinto orgulhoso de ver os amigos norte-americanos elegerem um negro, espero que nós brasileiros sejamos capazes de no futuro eleger uma mulher, um negro, um caboclo, um índio.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

CONVERSA DE PROFESSOR

Trabalho na disciplina de História e através de leituras e experiências, constantemente revejo meus conceitos, não somente sobre a minha disciplina, mas também sobre a educação de maneira geral.

Quando saí da faculdade possuía fortes tendências marxistas, de valorizar a história social e de forma alguma valorizar indivíduos. Tinha uma falsa concepção de que valorizar os indivíduos era criar heróis, que subordinavam ou dominavam as massas. Triste engano.

Hoje percebo que a sociedade é composta de pessoas que possuem uma mentalidade no sentido do que Nietzsche chamou de “espírito de rebanho”. Ou seja, se destacam em poucas coisas, ou até mesmo em quase nada, e fazem exatamente as mesmas coisas que a grande maioria as pessoas faz.

Hoje tenho a concepção de que é necessário valorizar sim a história dos indivíduos. Porque alguns indivíduos possuem um espírito empreendedor, um espírito de liderança e inovação que a grande maioria não tem. E foram justamente estas pessoas singulares, que foram o diferencial no passado e continuam fazendo a diferença no presente. O que dizer de Leonardo da Vinci, Gandhi, Santos Dumont, Galileu Galilei, Nelson Mandela, e tants outros que sonharam e buscaram um estilo de vida diferente da maioria das pessoas de seu tempo?

Assim, no cotidiano da escola temos alunos que fazem a diferença e temos alunos, a grande maioria por sinal, que fazem parte da massa. Acredito que reside aí uma das funções mais importantes da educação: despertar nos indivíduos o potencial inovador, empreendedor e criativo que reside dentro de cada pessoa. Tarefa difícil essa, não?

Não distorçam minhas palavras: não estou falando para as pessoas se tornarem solitárias e individualistas, muito pelo contrário, anseio pela vida social e comunitária. O que quero dizer, é que é preciso valorizar o potencial do indivíduo, valorizar as pessoas que fazem a diferença.

O que se percebe hoje é que, o ser diferente é uma criação do mercado de consumo e o estar diferente, significa ter um tênis, uma roupa ou carro inigualável. Estamos diferentes por fora e estamos totalmente iguais por dentro, porque pensamos de forma idêntica. Pensamos da forma como o mercado quer que a gente pense. Sinceramente, me preocupo com essa geração que estamos criando, e não falo dos meus alunos, falo de nós mesmos, porque fazemos parte deste mundo.

Quantos professores são inovadores, são criativos e são criadores? Procura-se professores que saibam criar possibilidades, que inventem, que desconstruam e reconstruam. Mero exagero o meu? Então professor, estou exagerando?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

CONVERSA DE PROFESSOR

Correntemente se houve dizer que faltam oportunidades de diversão para os jovens de nossa região. Essas palavras desmedidas são ainda mais comuns em épocas de campanha política. Muito bem, será que faltam mesmo oportunidades de recreação para os jovens de região? Será que os jovens de São Paulo ou do Rio de Janeiro tem mais oportunidades?

Creio que não, porque recentemente o grupo de teatro de Itapiranga teve que fechar suas portas, primeiro porque havia pouco incentivo financeiro, segundo porque poucos jovens buscavam o teatro como uma alternativa de recreação.

Creio que não, porque na nossa região temos uma natureza farta, aspecto importante para a prática de esportes saudáveis como a caminhada de aventura e a escalada, por exemplo.

Creio que não, porque por aqui temos aulas de violão, canto, teclado, flauta e tantos outros instrumentos musicais. No entanto, para a grande maioria dos jovens a música se resume a graves eletrônicos (techno), ou a melodias simples do funk estilo créu.

Creio que não, porque na região temos inúmeros esportes como voleibol, ciclismo, futebol, handebol... no entanto, vê-se poucos jovens praticando algum esporte no fim dê semana. O que se vê, são jovens cheios de vida, esbanjando do ócio.

Creio que não, porque temos inúmeras bibliotecas abarrotadas de livros, e, no entanto, são raros os jovens com que se possa debater algum autor ou sugerir algum livro. Pouquíssimos os jovens que enxergam a leitura como um lazer.

Por isso, quero dedicar um espaço de texto a uma pessoa muito especial. Não que eu não tenha o que dizer, mas porque o que quis dizer deve ser completado, pelo que ele, Charlie Chaplin, disse certa vez:

“Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio marque meia noite. É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje. Posso reclamar porque está chovendo ou agradecer às águas por lavarem a poluição. Posso ficar triste por não ter dinheiro ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício. Posso reclamar sobre minha saúde ou dar graças por estar vivo. Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria ou posso ser grato por ter nascido. Posso reclamar por ter que ir trabalhar ou agradecer por ter trabalho. Posso sentir tédio com o trabalho doméstico ou agradecer a Deus. Posso lamentar decepções com amigos ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades. Se as coisas não saíram como planejei posso ficar feliz por ter o hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser. E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma. Tudo depende só de mim.”
Portanto, jovens estudantes e jovens professores, não reclamem pelas faltas de oportunidades que nós teimamos muitas vezes em não enxergar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

CONVERSA DE PROFESSOR

Pesquisa divulgada recentemente me deixou realmente intrigado.
Menos de 1% prioriza educação ao votar. O brasileiro não prioriza a educação na hora de votar, constatou a primeira edição da pesquisa anual do Ibope sobre educação. De acordo com o levantamento, menos de 1% da população considera as propostas
para a educação determinantes na escolha do prefeito. O estudo revela
ainda que, 68% dos entrevistados não têm a menor idéia do que o atual
governante está fazendo pela educação em seu município.

Na avaliação do ministro da Educação, Fernando Haddad, o
desinteresse pela educação parte das classes dirigentes. "O que temos
que fazer é sensibilizar a classe política, os empresários e a
sociedade civil de que educação é a base da civilização. Sem ela, não
há crescimento econômico distribuição de renda, queda da criminalidade.
É um trabalho de longo prazo, pois no Brasil é muito recente esse
despertar para o valor da educação", disse o ministro no lançamento do
movimento Educar para Crescer, quando foi divulgada a pesquisa, no
Museu da Casa Brasileira, em SP.

Sim, sensibilizar, essa é a solução. Mas, ministro Haddad, como faço para sensibilizar meus alunos para esse tema? Por mais que nós professores falemos para que os eleitores prestem atenção nos candidatos, porque os investimentos em educação não são como os investimentos em obras, eles não aparecem como as obras. A grande maioria da população não consegue enxergar os resultados dos investimentos em educação.

No mesmo evento “Educar para crescer”, foram divulgados mais dados interessantes: Pesquisa do Ibope divulgou que 70% dos brasileiros estão satisfeitos com a qualidade da educação brasileira. Poxa, que bom isso não?

E ainda, entre as medidas que o governo deveria tomar para melhorar a educação pública, duas tiveram grande adesão dos respondentes: melhorar o salário dos professores (46%) e a sua formação (37%). Pelo menos a maioria dos pais concorda que os professores ganham mal e não recebem incentivos para avançar na formação profissional.

O que o Ibope esqueceu de pedir é quantos pais realmente entendem de educação de qualidade, e ainda, quantos pais acompanham o cotidiano de seus filhos na escola. Daniel Giandoso, professor de São Paulo questionou: “Poxa, será que essa pesquisa não foi feita na Suíça?”

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

CONVERSA DE PROFESSOR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou nesta quarta-feira que a educação não pode ser vista como um gasto, dizia ele: “Educação tem que ser vista como investimento e um investimento que possa dar retorno no espaço mais curto de tempo que o investimento traz.”

Engraçado isto. No Brasil parece que todo mundo está consciente da importância da educação, governantes enchem o papo pra falar dela, ressaltam sua extrema importância para o desenvolvimento do Brasil. Poxa! Se todo mundo sabe da sua importância, porque a educação ainda apresenta problemas tão graves? Talvez seja porque alguns governantes querem que a educação seja prioridade e outros não. Bem como, algumas esferas da sociedade querem a educação como prioridade, outras não. Coisas do Brasil.

Muito interessante a reportagem da Revista Crescer, do mês de Setembro, que sugere como você pode educar seu filho para ser empreendedor e ir atrás dos próprios sonhos. Destaco um trecho da reportagem: “Todo mundo nasce com o potencial para empreender, mas essa capacidade pode ser perdida ao longo da vida. Isso ocorre por dois motivos: Um deles é a escola que, muitas vezes, não treina a criança para ser questionadora, identificar oportunidades e lutar por elas, mas para decorar conteúdos e repetir o que outros já fizeram. Outra razão é justamente a família. Quando há nela pouco espaço para idéias diferentes, a capacidade de sonhar vai sendo podada aos poucos.”

Portanto professores, o que estamos fazendo para formar alunos empreendedores em nossas escolas? Difícil tarefa essa, não? Ainda mais quando grande parte de nossos alunos vem com a capacidade criativa podada já na família e na sociedade, porque tem pouco acesso a leitura e ao conhecimento. Lembrando que, quando falamos em empreendedorismo não estamos falando somente de alunos que abrirão uma empresa, mas sim, de alunos que irão criar, inovar e imaginar.

Se formos olhar par a educação por diversos ângulos, podemos perceber que há esperanças. Por exemplo, na minha escola há um aluno que tem notas baixas nas avaliações. Mas numa atividade ele me surpreendeu. Pedi para eles criar um herói, um personagem fictício, que representasse o sentimento patriótico brasileiro e que na história combatesse algum inimigo do Brasil. Veja o que ele bolou: criou o desenho de um herói sem face, que justamente representa os heróis sem rosto do Brasil, os trabalhadores, heróis do dia-a-dia que combatem os problemas cotidianos desse país. Verdadeiros heróis sem face do cotidiano. Genial, um elogio para esse aluno!

A empresa Google, por exemplo, paga seu funcionários por produtividade. Não exige horário e nem que eles compareçam na empresa. E nós ainda estamos educando jovens para um futuro emprego, que bizarrice. Paremos de educar para o emprego e eduquemos nossos alunos para o trabalho.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Professores de SC discutem Piso Salarial Nacional


Na última Quarta-feira, 10 de Setembro, os professores da rede estadual de ensino da região Oeste, se reuniram em Chapecó para discutir as propostas da criação Piso Salarial Nacional para o magistério.
O Piso Salarial Nacional, sancionado pelo presidente Lula, é uma conquista histórica da classe dos professores, que busca equiparar os salários do magistério a nível nacional. É uma iniciativa para transformar a educação em prioridade nacional.
Há uma intensa mobilização da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação, porque alguns Estados e alguns municípios estão buscando alternativas para não cumprir integralmente a lei, inclusive o Estado de Santa Catarina. A preocupação com a implantação do Piso Salarial Nacional (PSN), não deve ser somente uma preocupação dos professores da rede estadual, mas também dos professores vinculados a rede municipal de ensino

sábado, 6 de setembro de 2008

CRONICA DO PROFESSOR MOTOQUEIRO

Olá amigo professor, certamente você se familiarizou com o título de meu texto. Tenho quase certeza de que você um dia, já foi um professor motoqueiro. Se digo “professor motoqueiro” não é porque faço isso por hobbie ou por aventura – bom seria se como professor pudesse ter uma moto possante, daquelas que a gente vê na televisão, para nos fins de semana curtir um passeio sobre duas rodas.
Digo “professor motoqueiro” porque tenho dessas motos que se paga com prazo esticado, você consegue me entender? Na verdade, minha moto faz parte do meu cotidiano de trabalho, porque todos os dias rodo em média quarenta quilômetros para ir e voltar das escolas em que trabalho. E pelo fato de eu ser um “professor motoqueiro”, caro amigo leitor, quero lhe contar todas as dificuldades, bizarrices e acidentes referentes a esta condição.
A minha possante, Ernesto Guevara e Alberto Granado chamaram a sua de “a poderosa”, a minha possante é nova. Mas já vi por aí professores motoqueiros acelerando em motos antigas, daquelas modelos ML, entende? O simples fato de estarem rodando com estas relíquias, já os colocam na condição de estarem exercendo uma profissão de alto risco. Todos os dias, quando os professores motoqueiros saem de suas casas, há uma grande chance de eles sequer chegarem à escola.
Geralmente o professor motoqueiro torce para que não chova, o que é simples de entender. Mas quando é necessário pegar uma chuva, o humor do professor motoqueiro já se encontra alterado. Com o tempo você começa a pegar o jeito, inventa ou aprende alguns macetes. Botas Sete Léguas e uma boa capa de chuva são acessórios obrigatórios.
O professor motoqueiro, certamente já atropelou uma galinha, um cachorro ou um gato, já teve de parar no meio da estrada, e com a buzina tentar espantar aquela vaca que ousou fugir do cercado. O professor motoqueiro já bateu num passarinho descuidado, e seu capacete já ficou manchado de sangue. Alguns professores motoqueiros já enfrentaram um enxame de abelha e até mesmo a neve.
O professor motoqueiro já teve de enfrentar aqueles dias terríveis de inverno. O professor motoqueiro já chegou encharcado na escola, já pegou aquela gostosa chuva de verão após um dia de trabalho. Um professor motoqueiro já chorou de raiva porque não conseguiu ligar sua moto no inverno.
Há muitos grupos de motoqueiros espalhados pelo Brasil, mas jamais alguém cogitou em fundar o “Moto-clube do professor motoqueiro”. Apesar de todas as dificuldades da condição de professor-motoqueiro, ainda é necessário que ele, independente de seu humor, entre em sala de aula esboçando um sorriso, porque seus alunos sempre esperam isso dele. Não entendem que ele, professor motoqueiro, é um ser humano.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Dever ou direito do professor

- Todo professor deve ler, porque a leitura oxigena as idéias.
- Todo professor deve praticar algum esporte, porque a atividade física movimenta o corpo e queima as energias negativas adquiridas no ambiente escolar.
- Todo professor tem o direito de amar e ser amado, porque “quem ama educa”.
- Todo professor tem o direito de se queixar das dores lombares, das desilusões, das incertezas, dos fracassos.
- Todo professor deve trabalhar numa atividade paralela, porque o marasmo da sala de aula limita as perspectivas de vida, e alimenta uma epidemia mais conhecida como tédio.
- Todo professor tem o direito de se embebedar moderadamente e gastar dinheiro em coisas fúteis.
- Todo o professor tem o direito de errar, escrever uma palavra errada no quadro, soltar um “balão”.
- Todo professor tem o dever de acreditar na educação, e acima de tudo, acreditar naquilo que ele tem para falar. Auto-confiança é importante.
- Todo o professor tem o dever de acreditar que há possibilidades nesse mundo de incertezas. Mestres desiludidos é o princípio do fracasso.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Conversa de professor

Matéria da Revista Época, de 14 de Julho de 2008, ressalta que em alguns casos brasileiros, os pais preferem colocar seus filhos em escolas públicas ao invés de privadas. Não pela falta de condições financeiras, mas por opção.

Isso me deixa muito feliz, porque nas últimas décadas o que se viu foi o sucateamento do ensino público e a proliferação das escolas privadas.

Chamou a atenção o depoimento de uma mãe que dizia: “A escola pública de qualidade só vai existir quando a classe média apostar nela.” Pensei então, porque será que o pessoal da classe média estuda em colégio particular? Seria pela qualidade no ensino ou pelo status que ela fornece?

Certamente resultados do ENEM mostram melhor desempenho das particulares em relação às públicas. Mas o enfoque das particulares são esses exames. Mas eu acredito que elas não são capazes de fornecer uma vivência e diversidade que a pública oferece.

Será que a particular prepara para o vestibular e a pública prepara para a vida? “Não gosto dessa história de preparar minha filha para o vestibular. Adestrando você não dá autonomia. Quero que minhas filhas saibam resolver seus conflitos”, dizia uma mãe na reportagem da revista.

Eu estudei em escola pública, e daquela escola de Cristo Rei, vários cursaram ensino superior e hoje são destaques no mundo afora, tendo alguns alcançado inclusive o título de Doutor.

A escola pública tem a capacidade de educar através da vivência para a solidariedade, a diversidade e a desigualdade, coisa que as particulares têm dificuldades de oferecer, pois sua clientela pertence a mesma classe social, tem praticamente os mesmo gostos, os mesmos celulares, as mesmas roupas... “O menino que cresce fechado no universo da escola particular, não tem contato com a diversidade”, ressalta um entrevistado da Revista Época.

Aliás, se o pessoal da classe média fosse estudar em escola pública poderia investir o dinheiro da mensalidade em viagens e livros, o que traria um conhecimento excepcional.

A meu ver, no Brasil há uma inversão: professor pega licença saúde na escoa pública e continua trabalhando na particular; adolescentes iludem-se por estudar numa particular e acreditam que somente isso garante o status e “elite intelectual”. Grande engano.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Ilha das flores

Na época em que estudava na 8ª Série um professor de História passou esse curta-metragem para a gente. Esse filme marcou tanta a minha vida de estudante que quero compartilhá-lo com vcs.
http://www.youtube.com/watch?v=qgrjIg9a0qw

sexta-feira, 11 de julho de 2008

HOJE... FUI PROFESSOR

Hoje perdi o controle um milhão de vezes
Briguei com o Paulo, humilhei o Alfredo, perdi a paciência com a Joana.
Hoje percebi que ser professor é se contentar com pequenas coisas.
Que apesar de ter tido uma manhã maravilhosa, aquela última aula naquela turma estragou o meu dia.
Hoje já me questionei inúmeras vezes: por que estou aqui?
Todo este meu esforço direcionado para uma causa que não tenho certeza se trará resultados.
Hoje cheguei a pensar que ser professor não vale a pena, porque o mundo não dá bola para o que eu penso.
Mas, no entanto, tenho certeza de que terei repensado tudo de novo e que há um motivo pelo qual valha a pena dizer: eu sou professor.
Ser professor é manter aquela chama sempre acesa.
Hoje, de novo, aquele aluno precisava de mim.
Hoje, de novo, fingi ter preparado aula, que foi uma desgraça e para tirar minha parcela de culpa, condenei os alunos pela bagunça.
Hoje um aluno me disse obrigado com um olhar, outro com um sorriso e mais um com um gesto.
Hoje toda a minha dedicação despencou perante a inveja e insensibilidade de um professor.
Hoje, de novo, me decepcionei com o magistério.
Hoje, de novo, o magistério me deu um sentido para viver e acreditar nesse sonho chamado educação.
Hoje, foi mais um daqueles dias em que enfrentei a difícil e estimulante rotina de ser professor.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Conversa de professor

Reportagem da Revista Época causou alvoroço entre os professores. Tratava-se de uma reportagem sobre o pagamento do magistério com base na produtividade do aluno. Fiquei em dúvida se a reportagem causou alvoroço porque alguns professores estavam preocupados em não receber salário, ou até mesmo ficar devendo, ou se a indignação foi pela proposta ser uma injustiça.

A reportagem é feita com base no projeto implantado no Estado de São Paulo, que propõem que os professores recebam um bônus pelo bom rendimento dos alunos em exames como o Prova Brasil ou ENEM.

Certamente é uma proposta muito complicada. Como avaliar o trabalho de um professor através da produtividade de um aluno? E se aquele aluno não está nem preocupado em produzir? E pior, se aquele aluno nem se interessa em prestar algum exame? Vendo a realidade das escolas, há uma grande parcela dos alunos que não tem preocupação com exames, com universidade, com emprego ou com conhecimento.

Mas, pensando bem, será que essa proposta não iria trazer mais qualidade para o magistério? Porque acredito que a educação precisa necessariamente de um princípio da iniciativa privada: não produziu, não leu, não escreveu? Rua! Você não serve para a educação, não tem compromisso com a nossa empresa (escola), então vá fazer outra coisa.

Mas é importante destacar quem serão as partes capacitadas a avaliar se o professor é bom ou ruim. Deixar isso simplesmente para os alunos, é muita ingenuidade.

Novamente o Estado de Santa Catarina é destaque em provas nacionais que avaliam conceitualmente a educação. Desta vez o Estado foi destaque no Prova Brasil realizado em 2007. Mas há algo que me deixa intrigado: o que faz com que o Estado tenha bons desempenhos? Será que Santa Catarina tem uma educação de qualidade, ou será que os outros estados possuem uma educação de qualidade inferior à nossa? Bem, vejamos por partes.

O salário dos professores é um dos mais defasados do Brasil. Estados brasileiros que têm um dos melhores salários pagos aos professores, não tem desempenho tão bom quanto o nosso.

A quantidade de alunos por turma não deve ser a explicação, porque há salas super-lotadas, o que limita a qualidade no ensino.

A estrutura das escolas não é comparável aos padrões europeus ou japoneses, mas em relação a outras regiões as escolas catarinenses possuem uma estrutura razoável.

As bibliotecas são “velhas” e desatualizadas. Há de se registrar nos últimos meses, houve uma renovação no acervo, mas deixamos muito a desejar.

Temos laboratórios limitados, senão, em grande maioria, inexistentes.

Temos estudantes muito bons. Mas temos estudantes muito ruins, catastróficos. Alguns deles, não conseguem produzir um texto coerente, nem leram um livro nos últimos meses.

Temos professores muito bons, mas também temos professores muito ruins, catastróficos. Alguns deles, não conseguem produzir um texto coerente, nem leram um livro nos últimos meses.

Pergunto: o que faz Santa Catarina ter uma educação de qualidade? Certamente cada professor, dentro da realidade de sua escola, saberá responder a essa pergunta.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

ESCREVO

Escrevo porque dentro de mim pulsa uma energia
Uma força transformada em palavras
Uma vontade tamanha de mudar as coisas
De experimentar novas experiências através da escrita

Escrevo para construir um mundo feito de palavras
Escrevo porque minhas palavras são verbos e não substantivos
Eu as modifico, e me modifico junto com elas.

Leva um tempo para se descobrir o poder que as palavras têm
Elas são violentas, graciosas, estimulantes, grotescas
Levam muito mais tempo para construir do que para desconstruir
Semeiam, multiplicam, fortificam e também mentem

Escrever não é uma vontade ou uma petulância minha
É minha forma de externar a vida que há dentro de mim
É uma forma que encontrei para me encontrar comigo mesmo,
De estar sozinho e de estar neste mundo.

Escrevo para externar toda a minha indignação
Minha luta, minhas decepções
Escrevo para condenar todas as injustiças
Que sem piedade, crescem sobre mim
Escrevo pelas injustiças minhas e tuas
Na verdade, tão minhas quanto tuas

E as palavras que de mim saem
As vejo partir, porque já não são mais minhas
As vejo de longe, como um pai que criou suas filhas
E agora as vê conquistar o mundo.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Livro sobre ensino de História


É com prazer que publico algumas considerações sobre o ensino de História e a educação de modo geral. Pelo puro prazer da escrita, publico esta livro sem fins lucrativos. É uma produção independente, custeada pelo próprio autor, por isso peço a sensibilidade dos colegas para adquirir o livro por R$ 6,00 (mais despesas de envio). São 67 páginas detalhando propostas e projetos que desenvolvo nas escolas em que trabalho. Uma pequena obra, por uma grande causa: a educação. Interessados, entrem em contato: douglas_franzen@yahoo.com.br

segunda-feira, 19 de maio de 2008

The piano

Este vídeo é muito interessante para as aulas de História. Uma vida de memória, revistas a base de um piano. Trabalha a sensibilidade.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

MANUAL PARA CRIAR VADIOS NA ESCOLA

1 – Dê sempre uma outra chance, afinal de contas, vadios dificilmente conseguem cumprir compromissos;
2 – Faça questionamentos superficiais, eles evitam o raciocínio aprofundado e facilitam as coisas;
3 – Dê dez questões com respostas fechadas e essas mesmas dez questões exija na prova, deixando claro que haverá uma recuperação;
4 – Explique as atividades mais de cinco vezes, porque os vadios demoram a entender e demonstram sempre falta de interesse;
5 – Não corrija erros de ortografia e nem pense em descontar nota dos textos com muitos erros;
6 – Jamais, em hipótese alguma, peça para o vadio ler algo que tenha mais de três parágrafos. E nem ouse cobrar uma explicação do texto lido;
7 – É sugestivo realizar trabalhos com mais de cinco elementos, pois o vadio provavelmente será o tal do “quinto elemento” desnecessário;
8 – Nas aulas de leitura leve para a sala revistas com muitas figuras, para que o vadio pelo menos fique em silêncio durante esta atividade;
9 – Lembre todas as aulas o vadio de que é proibido usar boné e mascar chiclete na sala de aula, ele tem dificuldade de lembrar dessas regras.
10 – Seja uma pessoa tranqüila, leve de cabo a rabo o ditado de que há pessoas que nasceram para ser alienadas e exploradas;
11 – Vadios estão sempre no direito, dificilmente no dever, portanto, não tente exigir algo.

PS: A vida de professor sempre tem a tal da “primeira vez”. A primeira “mijada” geral, a primeira cola descoberta, a primeira aula sem auxílio do livro didático, o primeiro desafeto na escola, o primeiro aluno fã. Esta semana experimentei outra primeira vez: pela primeira vez, algum aluno tirou o cabo de vela da minha moto. Terrorismo escolar agora? Coincidentemente o ato terrorista ocorreu na semana de entrega dos boletins. Acho que na minha escola também estamos criando vadios, ou o professor é um deles, quem sabe? Não tiro minha parte de culpa.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

O que o ciclismo pode nos ensinar

Esta postagem é minha homenagem a esse esporte espetacular, que pode ensinar muito para nosos alunos e até mesmo para nós professores. Ele pode nos trazer algo que nos falta atualmente: persistência, dedicação, disciplina. Veja a opinião do ciclista Luciano Pagliarini e o vídeo sobre esse esporte apaixonante: o ciclismo.

A estrada e eu
O ciclismo é um dos esportes mais duros do mundo, quem o pratica ou praticou sabe do que estou falando. Um esporte aonde nada vem por acaso. Muita dedicação, sacrifício e determinação são apenas o início para se obter algum resultado, um mundo onde os talentosos são privilegiados e os preguiçosos não tem vez, são literalmente esmagados pela concorrência. É necessário muito trabalho, atitude mental positiva, persistência, entusiasmo, criatividade, ousadia, colaboração e humildade. Resultados nesse mundo são reflexo de muito empenho, me refiro a meses de duro trabalho, treinamentos muitas vezes desumanos, temperaturas extremas de 0° a 45°, onde o ciclista se encontra exposto a temperatura externa por várias horas. Me impressiono com a quantidade de pensamentos que passam pela cabeça nessas horas de pedal. Dúvidas, certezas, saudades, planos, sonhos, vontade. Horas em que é necessária muita determinação para fazer o pedal virar por 180/200 quilômetros de solidão no asfalto.Um esporte extremo que só pode ser encarado com muito amor e paixão, sentimentos necessários para superar dificuldades mil que devemos atropelar pelo caminho.


sábado, 26 de abril de 2008

Por favor professor!

Por favor professor!
Dê o máximo de si em prol de nosso sucesso.
Mostre-me caminhos para essa vida de incertezas
Eduque para as certezas e para as incertezas, desestabilize-me.

Por favor professor!
Mostre-me que a leitura pode criar possibilidades
Sobrepor barreiras e estimular minha imaginação
Tão deturpada, limitada e conservadora.

Por favor professor!
Faça de sua profissão um dom
Eduque com carinho, sensibilidade e iniciativa.
Pois é disso que eu preciso
Estou perdido nesse mundo de mazelas famigeradas

Por favor professor!
Faça me colocar as mãos no “barro” da vida
Para que eu possa entender a profundidade de nossa condição humana
E perceba que a vida é muito mais do que sofrimento

Por favor professor!
Sente ao meu lado, e pergunte como está o meu dia.
Sou carente desassistido e quero que alguém se preocupe comigo.

Por favor professor!
Pode não parecer, mas venho todos os dias para a escola
Com a esperança de que você me surpreenda e me sensibilize
Posso parecer indiferente
Mas é só o meu jeito de estar nesse mundo.

Obrigado professor!
Pela sua insistência, perseverança e paciência.
Pelas noites mal dormidas, pelas horas de folga perdidas.
Pelo carinho, pela receptividade.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A (in)discplina

Uma das maiores dificuldades da escola é trabalhar a disciplina. Ela pode ser entendida e discutida sob dois aspectos: como organizativa para fornecer o ambiente de estudo e como disciplinadora, para conter a criatividade e a heterogeneidade de idéias.
Enquanto escrevo este artigo os estudantes estão fazendo uma atividade de pesquisa. Trata-se de uma 6ª Série de 36 alunos. A disciplina numa turma numerosa como essa é essencial. Nessa faixa etária eles são muito inseguros, perguntam tudo sempre sobre as mesmas coisas: como fazer? Pode fazer com caneta? Pode usar corretivo? Não entendi professor! O professor Hugo Bohnenberger de Pitangueira estabeleceu uma quota de uma pergunta por aluno. Isso pode conter a curiosidade, mas também evita as perguntas tolas e desnecessárias.
Existem dias em que não conseguimos trabalhar conteúdos, somente tentamos conter a empolgação e a indisciplina dos alunos (nestes dias geralmente vai para chuva). Essas aulas são tão chatas e estressantes e ocorrem principalmente em turmas numerosas. Não entendo como os governantes não reduzem a quantidade de alunos por turma. Isso sim seria investir em educação com qualidade. Com poucos alunos por turma você pode conversar com cada um, saber da suas vidas, das suas deficiências e qualidades.
Como professor tenho muita dificuldade de lidar com alunos indisciplinados, principalmente se eles forem agressivos verbalmente. As vezes “explodo” com algum aluno e logo depois me arrependo de ter utilizado esse vigor enérgico. Com muitas aulas e nunca momento de irritação, você chega ao absurdo de dizer coisas do tipo: “por que você vem para escola, fique em casa!” “Vem na escola somente para comer merenda?” São situações que inibem o processo educativo, mas que são conseqüências da estressante tarefa de ser professor na atualidade. Aliás, xingo muito para alunos indisciplinados porque não tolero essas atitudes em minhas aulas. No entanto, quando saio da sala me sinto muito mal.
Muitos pensadores da educação condenam a disciplina utilizada pela educação no passado. Era uma pedagogia repressora, moralista e disciplinadora. Certamente nessa pedagogia, os alunos eram muitos quietos e seus corpos rígidos. Mas acredito que a criatividade e o espírito inovador e questionador era reprimido. Muitas pessoas reclamam dos efeitos que essa educação teve sobre sua vida: medo, obediência, subordinação, falta de sonhos e perspectivas. A “decoreba” estava muito presente nessa pedagogia, não se falava em consciência. O bom dessa popular “pedagogia da vara” era a disciplina, que consequentemente acarretava num certo conhecimento.
Hoje os estudantes têm mais informações, mas tem mais indisciplina. O ideal seria unir disciplina e aprendizagem. Como fazer isso? Eis a grande questão! Os melhores resultados do ENEM são de escolas que tem a disciplina como ponto central.
Em primeiro lugar, não haverá disciplina na escola se não houver disciplina na família. Os pais são peças chave no processo educacional. Produção e conhecimento somente serão efetivos com disciplina. Mas a criatividade, a espontaneidade e a capacidade de contestar serão facilitadas com certo grau de indisciplina. Galileu Galilei e Nicolau Copérnico foram muitos indisciplinados perante a igreja para defender suas idéias sobre o universo. Espero que os alunos sejam indisciplinados e contestem seus professores que exigem leitura e nada lêem e que exigem escrita e nada escrevem.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Conversa de professor

Já pararam para pensar sobre a insegurança? Como professor efetivo somente 10 horas, fica a constante insegurança sobre o futuro: faço mais uma graduação? Faço mestrado? Faço isso, ou aquilo? O que será de mim no próximo ano? É difícil para os seres humanos conviver com esta situação.

Talvez seja por isso que a grande maioria das pessoas se agarra a coisas pequenas que sejam seguras, ao invés de lutar por algo maior, mas muito inseguro. Acredito que os gênios saem da insegurança e da capacidade de arriscar.

Como é difícil trabalhar com os alunos a insegurança do mundo. Sinceramente, nas escolas educamos quase que unicamente para as certezas: emprego, faculdade, concurso... Os professores não sabem educar para as inseguranças, e os estudantes não querem estudar para as inseguranças.

É por causa das inseguranças que não temos projetos a longo prazo, os estudantes pouco estão preocupados para os próximos dez anos, os professores estão desinteressados com o seu futuro profissional. Preferimos viver na segurança do presente.

É na insegurança que a espécie humana cria alternativas para sobreviver, é aí que a criatividade aflora.

terça-feira, 18 de março de 2008

Filosofias da 5ª Série

Filosofias provindas da ingenuidade e simplicidade da 5ª Série: “Eu quero que a escola me ajude que eu passe em todas as matérias para que eu possa trabalhar na Seara.”, ou ainda, “A mensagem do filme pode ser qualquer uma, mas, uma delas pode ser importante.” “A escola não pode me ajudar, porque eu não tenho sonhos e tenho tudo o que eu quero e posso alcançá-los sozinha!” Por incrível que pareça, alguns estudantes de Ensino Médio são tão ingênuos quanto os da 5ª Série, ou seja, não conseguem ultrapassar esse nível intelectual. Triste realidade.

terça-feira, 11 de março de 2008

Conversa de professor II

Novamente a educação do Estado de Santa Catarina enfrenta a perspectiva de uma greve. Segundo o gerente de educação de Itapiranga, por aqui não há indício de greve e os professores estão plenos e contentes acerca de sua atividade. Completou ainda que, quem faltar para participar de assembléias do Sinte receberá falta. É impressionante que um gerente de educação tenha a capacidade de fazer essas ameaças aos professores, ainda mais, porque no passado ele foi nosso colega de trabalho.

Há algumas considerações que são importantes: o governo do Estado acha que qualidade na educação é unicamente reformar escolas e construir piscinas, e os professores acham que qualidade na educação é, unicamente, a garantia de um melhor salário. Os dois estão enganados.

Qualidade na educação não é simplesmente uma boa estrutura para a escola. É necessário um profissional competente e qualificado, um menor número de alunos por turma, melhores acervos para as bibliotecas, ambiente de estudo, recursos tecnicos.

Aposto que, mesmo que os professores recebessem 10 mil reais a educação estaria do mesmo jeito que está. É uma mentira o que os professores falam de que é necessário um aumento de salário para melhorar a educação. Unicamente dinheiro não basta. Aliás, para muitos professores que nada lêem, nada pesquisam, nada produzem, o salário atual está bom demais.

Aliás, a educação na Finlândia, país com o melhor índice educacional do mundo, não é nada mirabolante. As salas são como as nossas, mas há detalhes importantes. Os professores ganham cerca de 2,300 euros (R$ 8.3000) por mês (lembrando que o custo de vida por lá é alto), todo professor é incentivado a fazer mestrado. Os finlandeses têm um sistema educacional livre que roda com fluidez, bons professores, famílias que participam e dinheiro para enfrentar as dificuldades.

A bandeira de luta dos professores precisa ser mais ampla. Por exemplo, porque ninguém faz greve para que as licenças remuneradas para cursar mestrado voltem? Os alunos percebem que existem professores péssimos, que não tem talento nenhum para a educação, e por isso a greve não consegue conquistar os alunos e os pais.

Os ACT´s, os que estão em estágio probatório e os que pleiteiam um cargo numa SDR não possuem voz nos debates sobre a greve, sentem-se acuados e ameaçados.
Tive uma experiência muito produtiva na escola. Como tarefa de casa os estudantes deveriam escutar a Voz do Brasil ou um jogo de futebol pelo rádio. Foi brilhante. O rádio estimula a imaginação porque trabalha somente com o auditivo, muito diferente da televisão, que não força a capacidade cerebral, porque traz tudo pronto e “mastigado”.

sábado, 1 de março de 2008

Aos professores de História e Geografia

Volto a falar da necessidade de os professores ultrapassar os questionamentos "fechados" nessas disciplinas. Perguntar qual o ano da chegada da família real ao Brasil é mais do que retrógrado. Muito mais retrógrado é perguntar todos os nomes de D. Pedro I ou as leis da sociedade feudal.
Na disciplina de História e Geografia, o foco deve ser o Brasil e o regional, o aspecto global deve ser complementar. Professores parem de ensinar o Absolutismo inglês, a sociedade feudal européia, ou os aspectos físicos da Europa. Vamos ver a História e a Geografia do Brasil e suas regionalizações. O mundo vem como complemento. Detalhes da história mundial são desnecessários. O aluno acaba estudando muito mais de Europa, Ásia ou América do Norte, esquece que seu país tem uma história, uma geografia.
Confesso que fiz história motivado pela Segunda Guerra Mundial. Mas com o tempo descobri coisas fantásticas sobre o Brasil e suas regiões, que o mundo hoje serve como complemento aos debates de história regional que ocorrem nas aulas, tanto da 5ª série, como da 3ª série do ensino médio.
Agora, essa atividade exige pesquisa para além do livro didático. Reside aí o grande desafio.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

(IN) DIRETAS

Como professor que convive o cotidiano de uma escola, sinto algumas deficiências que me deixam realmente entristecido, em alguns casos, até enraivecido. Escrevo porque sinto na pele as dificuldades de ser professor de escola pública, de trabalhar num setor considerado essencial para o progresso do país, mas que na maioria dos casos é tratado pela população e pelos governantes simplesmente como um gasto necessário.

Aliás, muitos escrevem sobre educação sem nunca ter pisado numa escola. São os doutores que não saíram das quatro paredes da universidade e elaboram teorias mirabolantes sobre o que deveria ser a educação ideal.

Aliás, não são somente os teóricos universitários que nunca entraram em sala de aula, temos elementos que são dirigentes educacionais do Estado, que nunca, mas nunca mesmo, foram professores. Querem administrar a educação, mas nunca experimentaram administrar uma 5ªsérie com 41 alunos. Administradores não dão muito certo na educação, pois são especializados em “cortar gastos”, o que sinceramente, para a educação é um crime.

Neste ano, pela primeira vez, tenho quarenta aulas dadas. É uma carga tão maçante e delirante que em alguns momentos não lembro ao certo o horário e em que altura do debate paramos de uma aula para outra. Olha que essa carga é pequena comparada aos heróis das aulas “dadas”, os quais conseguem achar força e "inteligência" para trabalhar 60 horas semanais. É duro ter que agüentar uma carga horária dessas para garantir um salário “um pouco mais digno”.

Difícil mesmo é achar vontade e tempo para cumprir a tal da “hora atividade”, para uma carga horária de 60 horas semanais. A hora atividade fica para o domingo, depois da missa.

E a Secretaria de Educação está fiscalizando os professores que não preenchem corretamente o Diário de Classe. Cuidado para não errar com as bolinhas das presenças e as cruzinhas das faltas. Essa burocracia é de fato um atentado a intelectualidade. Não consigo achar tempo para fazer chamada durante as aulas, muito menos para preencher todas aquelas “caixinhas”. Existem professores que levam 10 minutos para fazer a chamada (e preencher as caixinhas), mais 10 para acalmar a turma, mais 10 para conferir se todos fizeram o tema, sobrando somente 15 para a aula, de fato.

Novamente faltam livros didáticos nas escolas públicas de Santa Catarina. De quem será o erro? Acho que foi da secretária da escola que não soube preencher corretamente as “caixinhas” do censo escolar.

É impressionante como os professores sofrem com a demora nos processos enviados ao setor de recursos humanos em Florianópolis, tais como aposentadoria, acessos ou incorporações. Enviei no mês de Setembro de 2007 um processo para anexar meu primeiro triênio. Passados todos esses meses e nada até o momento. Isso que estamos em plena era da informatização. Está na hora na descentralização chegar até a Educação.

Há um professor que reclama constantemente na sala dos professores de que seus alunos nada lêem. Caro amigo professor, você lê algo? Não? Cala-te, portanto!

Não quero dar uma de Celso Prates, mas senhores pais, por favor, dêem mais atenção a seus filhos. Acompanhem seu andamento na escola, sentem com eles para ler. Penso sinceramente, que os filhos são um investimento a longo prazo e, por isso, não se surpreendam quando futuramente vocês forem abandonados num asilo. Seu filho estará retribuindo a educação que recebeu quando criança

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sugestão de leitura


Minha namorada me dá presentes, e no nosso relacionamento, cada um escolhe seus presentes. Ela sabe que quero livros, então escolhi. Escolhi "A menina que roubava livros", de Markus Zusak. Confesso que fui influenciado pelos mais vendidos da revista Época, mas o nome chamou muito a minha atenção. Aliás o nome vende o livro, precisa vender. Li então, nas férias, 477 páginas. Incrível. Uma história envolvente. O escritor precisa saber escolher os personagens e o espaço em que ocorre a história. Zusak foi genial. Imagine, quando a Morte decide narrar a história de uma menina que roubava livros, na Segunda Guerra Mundial, em plena Alemanha nazista. "Carregaria uma mala, um livro e duas perguntas. Uma história. Uma história depois da história. Uma história dentro da história..." Leia esse livro, é bom!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Eu e o Poder

Eu e o Poder vivemos juntos. Ele está sobre mim assim como eu estou com ele. É claro, tenho de assumir que, ele, está muito mais sobre mim do que eu com ele. Mas aceito essa disparidade, até porque, os poucos momentos em que estou com ele, me glorificam, alimentam meu ego, ao ponto de acatar e me subordinar aos seus desejos, seus mandos e desmandos.

Ah! Sim. Esqueci de dizer que o Poder tem um temperamento difícil, mas o meu desejo de estar com ele é imenso. Quando estou com o Poder me sinto mais forte. Consigo subordinar outras pessoas. Com o tempo você aprende que estar com o Poder é glorificante. Mesmo que na maior parte da sua vida, ele, o Poder, está muito mais sobre você do que com você.

O Poder é uma figura muito misteriosa. Todos sabem que ele existe, mas poucos sabem como conquistá-lo. Aliás, alguns nem o conquistam, o recebem de gratificação, através de um cargo partidário, ou adotando a tática do “puxa-saquismo”.

O Poder está no ar, ele se dissimula em várias pessoas, mas não tem face. Constrói uma teia de relações entre as pessoas, algo semelhante a barras de ferro, só mais elásticas, mas não menos reais. Às vezes penso que o Poder está na figura de meu patrão, mas quando paro para pensar, percebo que ele está muito mais em mim, porque alimento relações de poder muito mais intensas com os meus subordinados. Descarrego toda minha subordinação ao Poder em outras pessoas, nem que sejam meus filhos, meus alunos, meu vizinho, minha esposa. Alimento essa figura chamada Poder, desejo estar com ele constantemente.

Se você credita não ter nenhum tipo de relação com o Poder, pense no seu cotidiano. Ele está contigo, na verdade, muito mais sobre você, em qualquer tipo de relação social que você exerça. Ele está no olhar vigilante do policial ou do patrão. Está nas regras morais conservadoras. Ele ameaça a tua liberdade, fazendo acreditar que você a tenha. Eu sou o Poder, você é o Poder, nós somos o Poder. Sofremos com ele e por ele. O desejamos, o alimentamos, o multiplicamos. Eu e o Poder. Você e o Poder?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O papel social do historiador

Costumeiramente credenciamos características próprias de determinado profissional quanto a sua conduta e responsabilidade social. Como profissional da História, quero estabelecer um debate acerca de aspectos que considero essenciais para o historiador: o comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, e a ética na compreensão de fatos históricos.
Como educador, o historiador possui todas as responsabilidades perante uma educação de qualidade, muito mais libertária e inteligente, do que conteúdista e disciplinadora. Michel Serres em seu livro “Variações sobre o corpo” dizia que: “Um ensino que coloca os alunos diante de mestres medíocres conduz à escravidão e à interdição da liberdade de pensar por si mesmo.” Ou seja, o grande trunfo do educador é estimular nos estudantes, o pensamento e a capacidade de reagir perante as incertezas do mundo contemporâneo.
No entanto, essa proposta educativa não será possível se o historiador não estiver imbuído do espírito da leitura e da escrita. Ele estará sendo falso, mentindo para os estudantes e para si mesmo, exigindo leitura e escrita de seus alunos, sendo que ele próprio não a prática. O professor de História precisa citar livros, nomes de autores, produzir textos a partir de suas próprias pesquisas. Essa prática certamente irá estimular os alunos, alimentará a auto-estima e a confiança do professor, além de tornar a atividade profissional dinâmica e empolgante.
Doravante, aliado ao comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, o historiador precisa estar imbuído de ética profissional, porque ele traz à tona valores culturais, interesses, desavenças, intrigas, sonhos e ilusões que ocorreram em algum lugar do passado, mas que podem ser perigosos e comprometedores no presente. Sempre acreditei que os físicos tinham responsabilidade pelos danos causados pelas bombas atômicas, como afirma Fritjof Capra no livro “O ponto de mutação”. Mas e o historiador, ao compreender e publicar fatos passados também não é capaz de gerar danos na sociedade. Quantas guerras religiosas ou políticas não foram motivadas por manuscritos de historiadores? Como disse Hobsbawm em seu livro “Sobre História”: “Nessa situação os historiadores se vêem no inesperado papel de atores políticos. Essa situação nos afeta de dois modos. Temos uma responsabilidade pelos fatos históricos em geral e pela crítica do abuso político e ideológico da história em particular.”
Quando falamos que a determinada região foi colonizada predominantemente por alemães não estamos destituindo demais personagens históricos e estimulando preconceitos? Afirmar que o caso Safrita, em Itapiranga-SC, foi um “roubo” dos comerciantes perante os camponeses não é remexer em “feridas abertas” do passado? Condenar a Igreja Católica pelo seu passado não é estimular o abandono dos fiéis da mesma?
Temos sim uma responsabilidade social! Precisamos ter consciência das palavras que utilizamos para compreender o passado. Analisar os fatos históricos remete comprometimento, responsabilidade e ética. “Infelizmente, como demonstra a situação em áreas enormes do mundo no final de nosso milênio, a história ruim não é história inofensiva. Ela é perigosa. As frases digitadas em teclados aparentemente inócuos podem ser sentenças de morte” Eric Hobsbawm

Livro Sobre História, de Eric Hobsbawm