segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Yes, we can!


“Yes We Can”
We Quem, Cara-pálida…


Eu nunca gostei de ver as imagens televisivas do Presidente Barack Obama vomitando: “Yes We Can” (Sim Nós Podemos), aquilo nunca fez muito sentido para mim, muito menos o fato destas palavras serem tão celebradas mundo afora – em especial no mundo subdesenvolvido e explorado.

Agora, as coisas estão fazendo mais sentido; ficaram mais nítidas depois do anúncio do presidente estadunidense sobre a conferência climática de Copenhagen em dezembro, finalmente eu entendi que toda a confusão, estava em um simples fato de “economia de palavras”, uma omissão voluntária para economizar em tempos de crise global; O sorridente Obama, não estava mentindo para ninguém, nada de maldade, só corte de custos mesmo, nada que uma tradução atenta não resolva...

Yes We Can
Tradução 1) – Sim Nós Podemos continuar a destruir o meio ambiente global, podemos despejar quantas toneladas de entulho carbônico na atmosfera nós quisermos, podemos consumir e estimular o consumismo até esgotar os recursos do planeta, podemos destruir tudo, É Tudo Nosso Mesmo.

Yes We Can
Tradução 2) – Sim Nós Podemos continuar financiando o RACISMO, apoiando todos os crimes dos assassinos sionistas do Estado Terrorista de Israel, contra os semitas Palestinos, podemos barrar as resoluções que pedem o fim dos massacres, das humilhações, das construções de assentamentos e todas as outras atrocidades que nossos aliados de Israel estiverem interessados, simplesmente porque podemos, e nos interessa militar e economicamente!

Yes We Can
Tradução 3) – Sim Nós Podemos continuar violando os direitos humanos e assassinando na prisão de Guantánamo, que fica em nosso quintal, um quintal rebelde, mas que com a reativação da 4ª frota naval, nossas novas bases na Colômbia (apoiados por nosso fiel capacho Uribe) e com a subserviência de quase todos os governos a nós americanos, logo estará cumprindo seu papel histórico de lamber nossos coturnos, afinal a América Latina é o NOSSO quintal!

Yes We Can
Tradução 4) – Sim Nós Podemos continuar enviando tropas para o Afeganistão, invadindo, sustentando ou incentivando a invasão do Iraque, do Haiti, da Palestina e de todo e qualquer povo que se colocar em nosso caminho, claro sempre defendendo a liberdade, pois nosso caminho para a exploração deve estar LIVRE!

Yes We Can
Tradução 5) – Sim Nós Podemos fazer TUDO o que quisermos, nós somos AMERICANOS*!

Sid Cerveja - Sidinei Roberto Nobre Júnior – UNIFESP – Guarulhos

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

uma foto arrancada da prateleira


Isolde era uma moça jovem que estudava no Colégio São Vicente em Itapiranga. No final da década de 1960 esta escola era uma referência na região e muitas adolescentes deixavam suas comunidades e famílias para continuarem seus estudos. Algumas destas meninas freqüentavam o internato do São Vicente mantido pelas freiras da Sagrada Família, mas outras trabalhavam como empregadas domésticas em residências da cidade para que pudessem estudar.
Isolde trabalhava como empregada na casa de uma família tradicional de Itapiranga. Pela manhã fazia suas tarefas, limpava a casa, cozinhava, cuidava das crianças, e por esse serviço recebia muito pouco, apenas o direito de residir com a família e de estudar á tarde no colégio São Vicente. Aliás, a única quantia em dinheiro que ela recebia era no final do ano, quando ela voltava para a casa da família no interior.
Sabemos que a disciplina no Colégio São Vicente era algo sagrado. Bem pudera, era um local com muitas meninas adolescentes, que obviamente eram atiçadas pelos garotos da cidade, que também estudavam nesta escola. Toda esta disciplina rigorosa também instigava nas meninas certo espírito de rebeldia, o que muitas vezes gerou sérias complicações e punições por parte dos coordenadores da escola.
Todas as meninas eram obrigadas a usar saias compridas, era exigência moral da época. Mas antes de entrar na escola, as meninas dobravam a barra da saia até acima do joelho e quando era dado o sinal de início das aulas, ela desenrolado encobrindo até parte uma da canela. Na porta de entrada postavam-se duas freiras para fiscalizar quem ocasionalmente não estivesse vestido a rigor. Não estar a rigor significava punição.
Os adolescentes da época cultuavam personagens da música e do cinema que simbolizavam o espírito de rebeldia do período. Um destes símbolos era o casal de músicos Teixeirinha e Mary Terezinha, que formaram uma dupla amorosa e musical durante vinte e dois anos. Eram um símbolo entre a juventude da época. Gravaram muitas músicas e foram companheiros em filmes que encantavam principalmente o público jovem.
Isolde conseguiu de uma colega a foto do casal Teixeirinha e Mary Terezinha, e no final do ano a levou para casa para mostrar a seus irmãos. Colocou a foto na prateleira da cozinha, pintada de azul com aberturas de vidro. Era um gesto inocente, mas condenado pelo seu pai.
Quando o chefe da família se deparou com aquela imagem, imediatamente a tirou de exposição jogando-a no fogo do fogão. As pessoas mais tradicionais da época não simpatizavam com estas tendências modernistas dos jovens. Para os mais velhos as únicas imagens que pudessem estar expostos na casa, eram imagens de santos. O gesto do pai de Terezinha era muito mais do que um simples gesto disciplinar, era uma amostra do conflito de gerações que ficou evidente a partir da década de 1960.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Antes de Eusébio ir ao baile

Esta é a história de um homem, Eusébio, criado na roça no meio do nada. Uma história surpreendente, que parece irreal, mas que aconteceu no passado desta terra chamada Porto Novo. Uma história que parece ter sido única, mas que se confunde com a vivência de muitos homens criados neste rincão.
Eusébio era definitivamente um cara estranho. Não que ele tivesse tido alguma anormalidade física, muito pelo contrário, seu corpo era sadio, forte e rude pelo trabalho pesado e pela alimentação saudável da época. Eusébio era um cara estranho porque era pouco sociável e tímido, preferia ficar em casa, na companhia dos animais, do que sair e se relacionar socialmente. Aliás, os animais da propriedade significavam tanto para Eusébio, que a eles deu até mesmo nomes, e conversava com eles como se fossem íntimos. Até os seus seis anos de idade, antes de freqüentar a escola, Eusébio não teve qualquer contato com a sociedade, vivia entre os animais da propriedade, acreditando muitas vezes ser um deles.
Assim havia o cachorro Xole, companheiro de caça; a junta de bois, Vermelho e Valente, companheiros de trabalho; Campeão, o galo de rinha; e a vara de porcos, cada um com seu nome. Com as vacas e as galinhas Eusébio não tinha um relacionamento direto, porque isso era obrigação das moças da casa.
Em relação aos porcos é preciso destacar que Eusébio cometeu um dos pecados mais terríveis do catolicismo. Pelo fato de ser pouco sociável teve um caso de amor com uma porca, a Princesa. Sim caro leitor, o que chamamos atualmente de bestialidades, fora cometido não poucas vezes na colônia Porto Novo. Porcas, bezerras, novilhas e cadelas, foram muitas vezes objetos de desejo sexual de jovens como Eusébio.
Este caso de amor entre Eusébio e Princesa, a porca, durou até o dia em que foram flagrados pelo pai de Eusébio. A reação foi de horror, como eles ousaram cometer este pecado? É claro que naquele dia Eusébio apanhou muito, e a porca também. Der hat der Eusébio geschwot und die Sau auch. Dan sagt der man: “Du solst noch einmahl schweinerei machen! Jetz hats geschegt.” Uma semana depois a porca Princesa virou salame.
A partir daquele dia Eusébio não era mais responsável por tratar os porcos, função que passou a ser exercida pelo irmão, que já estava de sobreaviso. A surra de cinta desferida pelo pai em Eusébio e na pobre porca Princesa deixou todos assustados.
A propriedade da família de Eusébio era isolada e distante da civilização, no meio do nada, literalmente. Esporadicamente a família recebia alguma visita, fato que deixava as crianças assustadas e tímidas tanto que se escondiam no galpão e no sótão. O filho mais velho já freqüentava os bailes e já participava das atividades comunitárias. Mas Eusébio e seus outros sete irmãos eram pouco sociáveis.
Sentiam-se a vontade quando estavam em meio aos animais da propriedade. Seus corpos cheios de feridas e bicho-de-pés denunciavam a pouca higiene da família. Banhos evidentemente, só ocorriam no riacho ou ao sábado, reduzidos ainda mais em épocas de inverno.
A socialização das crianças acontecia a partir do momento em que freqüentavam a escola. Aliás, Eusébio e seus irmãos eram péssimos alunos. Sempre sujos e infestados de piolhos, os cadernos igualmente mal cuidados, demonstravam que aquela família era definitivamente anti-sociável. Como eles havia várias outras crianças, que cresceram reprimidos pela timidez, suas histórias são mantidas à surdina, varridos para baixo do tapete, não são um modelo de alemão idealizado para Porto Novo, mas são parte de sua história.
Geralmente esta situação de isolamento social ia se dissolvendo com o passar dos tempos, conforme o contato social evoluía. No entanto, muitos homens e mulheres jamais tiveram uma paixão, um relacionamento, um casamento, porque justamente cresceram com medo. No caso de nosso amigo Eusébio, ir ao baile poderia ter significado um avanço, mas foi um desastre que veremos na próxima semana.
Os fatos presentes nesta crônica são reais, apesar de os nomes dos personagens serem inventados, inclusive o da porca.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quando Maria foi ao baile...

Maria estava com seus dezesseis anos completados, já tinha personalidade para acompanhar seus irmãos aos bailes. Depois de longos anos servindo como anjo da guarda, era chegada a hora de ultrapassar as barreiras da vida. A sua experiência como anjo da guarda rendeu uma série de curiosidades, não que ela tivesse visto algo de extraordinário no namoro de sua irmã com seu namorado, afinal de contas, grande parte do tempo ficou distante, comprada por um doce. Mas Maria estava curiosa porque ouvia de sua irmã fatos que transcorriam durante o namoro. Como era possível duas pessoas fazer tais coisas? Imaginava ela.
No dia do baile teve de ouvir sérias recomendações de sua mãe, sobre o que poderia ou não ser feito, e o que deixava ela realmente surpresa, é o fato de que sua irmã contava justamente o contrário. Neste momento Maria teve uma lição importante na sua vida. Existiam dois mundos em Porto Novo: aquele que as pessoas idealizavam existir, baseado nos valores morais passados de geração em geração, e aquele mundo paralelo da vida, muitas vezes escondido, que acontecia no escuro, nos “porões da alma”, que era condenado pela sociedade, mas também praticado por ela. Esta situação deixava Maria realmente curiosa.
No dia do baile havia um entusiasmo em todos, afinal de contas era a oportunidade de sair de casa. Maria foi ao baile com seus irmãos e alguns vizinhos. Já não estava mais incumbida de ser anjo da guarda, agora estava na condição de independente. Chegando ao salão, a movimentação era grande, as pessoas realmente freqüentavam os bailes na década de 1950. A animação da banda era evidente, mas o volume era muito baixo, o que muitas vezes dificultava aos casais de se manterem no ritmo. Algumas vezes a música já tinha acabado e alguns casais continuavam a dançar.
As mulheres sempre tinham que estar vestidas prudentemente, nenhuma roupa que demonstrasse excessivamente o corpo. Naquele baile a comissão de ordem (Ordnungskommission) teve que entrar em ação para expulsar uma jovem que havia usado trajes que feriam os padrões da época. As garotas ousavam, as vezes, muito mais do que os homens.
A certa altura do baile fato inusitado assustou a estreante Maria. Um jovem rapaz convidou uma de suas irmãs para uma dança, e ela prontamente negou. Tal atitude deu ao jovem a autoridade para desferir-lhe um violento tapa. Na época os homens tinham o direito de reprimir as moças que recusavam o convite a uma dança, direito que lhes era garantido pelo fato de que elas não precisavam pagar ingresso no baile. Maria achou aquilo um cúmulo, mas suas irmãs logo a instruíram de que era o costume, e costumes não se contesta.
As mulheres dificilmente consumiam cerveja. Aliás, poucos jovens tinham dinheiro para gastar com cerveja. Durante o baile se consumia cuca, salame, e uma cerveja que se fazia questão que durasse o maior tempo possível, mesmo que fosse quente.
Até certo da altura do baile era permitido que as moças pudessem dançar entre si, mas a certo altura era dado o sinal de que isso não era mais permitido, era a hora da paquera. Em poucos momentos era permitido que as mulheres tirassem os homens para dançar (Damentur), fato que era encarado como vulgar, mas que acontecia. Geralmente as mulheres sem namorado se posicionavam num canto reservado (Mädesck). Naquela noite Maria foi convidada duas vezes para dançar, porque ainda era muito nova, ainda não estava na idade de casar. Voltou para casa com mais dúvidas do que respostas. Sabia que para conhecer a vida fora dos padrões morais, era necessário ousar e ter certa dose de coragem.

sábado, 20 de junho de 2009

Histórias do velho oeste: das arbeiten

A região possui histórias impressionantes sobre a dedicação deste povo ao trabalho. Entlige han sich kaput geschaft, aber sind die woh auch wenich aus das Arbeite sich geqüelt han. Temos pessoas que entregaram sua vida ao trabalho e ao sacrifício brutal de trabalhar com a finalidade de juntar um capital familiar ou deixar uma herança aos seus filhos. Inclusive algumas pessoas até se sentiam culpadas quando passavam o dia sem ao menos ter trabalhado ou produzido algo. O ócio não é um valor que se aplica a rigor na cultura alemã.
Por aqui podemos perceber que a palavra trabalho tem um vínculo muito forte com a origem do termo, que é derivado do latim, e que na Antiguidade denominava um instrumento de tortura imposto sobre os únicos que realmente deviam sofrer trabalhando.
Em São João do Oeste tivemos um caso de dedicação ao trabalho, o que pudemos constatar quando ele fazia seu trabalho de arador. Seus gritos e lamentações com a junta de bois eram tão intensos e explosivos, que se assemelhavam a um drama. Era uma verdadeira angústia escutar este homem a guiar o arado. Era algo impressionante, porque quando ele fazia seu trabalho toda a comunidade escutava seu berreiro. “Vaaamo seus lerdos, eu não tenho o dia todo!”. Pelos gritos do homem, para quem estava desinformado, parecia que ele arava com três bois: “Mineiro, Bahiano, Aiaiaiaiai!”
Nos primeiros anos de colonização de Porto Novo, o trabalho era essencialmente braçal. Era necessário derrubar a mata, queimar os troncos e arar a terra, num trabalho braçal sofrido. A família numerosa dedicava-se inteira a atividade agrícola, catando as pedras para que a terra apresentasse mínimas condições de plantio. Aquela situação era realmente desoladora. Crianças cheias de feridas de picadas de insetos, unhas sujas de terra, pés com uma crosta do frio do inverno. Realmente não era tarefa fácil distinguir os animais dos seres humanos na lida na roça.
Mas por aqui nem todos eram assim tão entusiasmados pelo trabalho. Doh ware auch die woh gern in die Schtat gefah sind. Na cidade passavam a tarde jogando baralho ou incomodando o prefeito com lamentações, enquanto que a mulher e os filhos cuidavam da propriedade. Estes realmente acreditavam que o trabalho era um castigo de Deus, e não estavam nem um pouco interessados em suprir sua dívida divina. E estes transeuntes não fazem parte somente de nossa história, alguns deles ainda andam por aí.
O trabalho se tornava ainda mais sacrificante pelas condições físicas de nossas terras e matas. Em alguns locais a roça era tão inclinada que o arador, para fazer seu trabalho de arar a terra devia usar uma junta um tanto estranha: para equilibrar a declividade do terreno, de um lado cangava um boi, e de outro, um porco. E aquelas verdadeiras jornadas pela sobrevivência que eram realizadas a carroça, que atravessava terrenos montanhosos e acidentados, munidos simplesmente com um sistema de freio extremamente inseguro. Os bois, coitados, chegavam em casa babando de sofrimento, e ainda por cima eram proibidos de comer ou consumir água por uma espécie De cesta que prendia sua boca – Maulkhorap.
Quando os bois se cansavam de seu trabalho extenuante, e decidiam por falta de forças deixar de puxar a carroça, o animal de duas patas os castigava cruelmente e sem perdão, com um chicote violento, que quando chicoteava, assobiava no atrito com o ar.
No passado se trabalhava muito e se produzia relativamente pouco. Muitas pessoas morreram de tanto trabalhar, assolados por doenças físicas de tanto castigarem o seu corpo. Homens e mulheres, adultos e crianças, temos um passado marcado pelo trabalho pesado, e isso está impregnado em nossa cultura, por isso se diz que o alemão tem um corpo rude e duro, moldado pela geração do trabalho.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

A criança enjaulada

Ana já estava em trabalho de parto havia um bom tempo. A dor era muito forte e a parteira fazia uso de todas as suas possibilidades para amenizar o sofrimento e favorecer o nascimento da criança. Temos de admitir que as possibilidades da parteira eram bastante limitadas. Naquele momento, o que ela podia fazer era acalmar a gestante com palavras de estímulo e fazer algumas rezas para que uma intervenção divina auxiliasse aquela pobre mulher a parir seu filho. Era a o ano de 1946, na colônia de Porto Novo, época em que os partos eram extremamente difíceis: não havia hospitais próximos, médicos, enfermeiros e ferramentas, o que preponderava era a força da gestante, a habilidade da parteira e uma boa dose de sorte e de fé.
A dor que Ana sentia sugava todas suas forças. Seu suor já molhava os lençóis da cama do casal. A cama era ao mesmo tempo local de dormitório, de cura de enfermos e partos. Na maioria dos casos, na mesma casa as pessoas eram concebidas, nasciam, adoeciam e faleciam. Diferentemente de hoje, na época eram os objetos que viam as pessoas nascer e morrer.
O trabalho de parto já havia suprido todas as forças de Ana e as possibilidades da parteira. O marido Antônio acompanhava todo o processo apreensivo, já estava quase decidido a encilhar seu cavalo e cavalgar trinta quilômetros para buscar um médico.
Ana segurava em sua mãe a imagem da Virgem Maria, ela a aconchegava, dava força e proteção. Era preciso buscar mais forças para que o filho nascesse. Depois de um longo período de sofrimento, a criança acabou nascendo, mas o parto teve complicações, o que afetou a integridade física da criança. No momento de cortar o cordão umbilical da criança, Ana ficou assustada, estava em dúvida se ela sobriveviria sem ele. O sangue havia manchado toda a cama, mas estava no fim o sofrimento. Mal sabia a família de que aquela criança iria se tornar um filho enjaulado.
A criança por ter sofrido no momento do parto acabou desenvolvendo uma deficiência no cérebro que afetou a sua capacidade mental e causou danos na sua estrutura física. Na medida em que ela crescia, os pais da criança passavam a perceber que se tratava de uma criança anormal. Na época, muitas famílias entendiam que uma criança deste feitio era uma espécie de um castigo divino, ou até mesmo uma mensagem diabólica.
Ana e seu marido não entendiam o que haviam feito de errado para receber tal “maldição”. Será que Deus havia lhes imposto um castigo? Conforme a criança foi crescendo também foi aumentando o preconceito da família e da sociedade sobre ela. Com o tempo a família passou a entender que era vergonhoso ter uma criança deste feitio, e tomou uma decisão drástica: enjaular a criança. Escondê-la da sociedade, literalmente.
Ana sentia sinceramente em ter que fazer isso com seu filho, mas seu marido era quem tomava a decisão final. Ele acreditava que a criança havia nascido com estes problemas por culpa da esposa, e por isso, ela devia consentir em mantê-la enjaulada.
Acabaram prendendo a criança dentro de um quarto, da onde só podia sair em alguns momentos, principalmente na hora das refeições. Algumas vezes era retirada para ter contato com a luz solar, quando era amarrada a um pé de laranja, para que não fugisse. Jamais essa criança foi mostrada para a sociedade, e sempre alguém devia ficar em casa para cuidar dela enquanto que o restante da família freqüentava a missa ou as festas comunitárias. Uma vida isolada da sociedade, que jamais teve contato social, jamais aprendeu a ler e a escrever, jamais pôde sentir o gosto da vida.
A criança que nasceu com problemas físicos e mentais devido às complicações no parto era uma vergonha para a família. Era uma espécie de um castigo de Deus, e por isso devia ser mantida em cativeiro.
Parece uma história cruel, mas não é uma ficção. São histórias reais deste povo, que permanecem ocultas por vergonha, por culpa ou por omissão. Vidas podadas por crenças e valores morais preconceituosos.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Histórias do velho oeste: uns causos da comunidade de Ervalzinho

Ervalzinho era uma comunidade que se desenvolvia pacatamente às margens do Riacho Dourado. Diziam que antigamente havia por lá belos ervais, o que se torna difícil de evidenciar pela aparente escassez desta espécie vegetal naquela localidade. Mas o que se pode dizer da comunidade de Ervalzinho, é que por lá aconteceram uns causos um tanto interessantes.
A começar pela prática do bolão. No início, a cancha de bolão estava localizada no meio de um matagal, onde se encontrava duas pranchas serradas de toras, que serviam de cancha. Naquele recinto os homens, deixamos bem claro, os homens, se divertiam e tomavam cerveja. A cerveja, chamada de Morena, era fabricada em Itapiranga, e como o próprio nome já dizia, era bem escura. Muitos garotos tomaram pela primeira vez em sua vida a cerveja Morena e fumaram seu primeiro cigarro naquela cancha no meio de um matagal.
A primeira festa organizada pela comunidade foi uma verdadeira surpresa. O Padre Junges SJ, ficou incumbido de fazer propaganda da festa nas comunidades vizinhas. No dia da festa compareceram tantas pessoas, que acabou faltando comida, e as pessoas foram obrigadas a ir para casa buscar pães, cucas e bolachas para serem consumidas na festa. Um fato marcante na história religiosa da comunidade, foi a visita do Bispo da então diocese de Palmas, Dom Carlos Eduardo Saboia Bandeira de Mello, que chegou até a Ervalzinho no carro modelo 29, do senhor Reinoldo Reckziegel.
Nos primeiros anos havia na comunidade um armazém onde era depositada a produção agrícola da comunidade. E quando era vendida esta produção o armazém se transformava num aconchegante salão, onde eram realizados os bailes animados por gaiteiros. Naqueles bailes havia a temida comissão de ordem, que se responsabilizava por controlar qualquer desvio de conduta moral dos festeiros.
Nas missas o padre controlava a roupa dos fiéis. As mulheres não deviam mostrar partes de seus corpos e os homens deviam estar vestidos com calças e casacos, mesmo no calor do verão. Na festa de Jubileu de vinte e cinco anos da primeira missa, o Padre Hanzen SJ, realizou uma procissão feita com cavalos e carroças. Quando a procissão se aproximou da comunidade foram disparados muitos foguetes, o que assustou os cavalos e os bois. Muitas carroças tombaram naquele dia, bem como, muitos cavalos saíram em disparada incontrolável.
O primeiro rádio da comunidade era de propriedade do Senhor João Weiland. Muitas pessoas iam até a sua casa para se divertir com o rádio. O rádio funcionava a base de bateria e para carregá-la era preciso cavalgar até a comunidade de Dourado, na propriedade de José Eyerkaufer, que carregava as baterias com um cata-vento.
Certo dia a comunidade de Ervalzinho foi atingida por um temporal. Chuvas torrenciais arrasaram as plantações e encharcaram as residências, arrastando consigo tudo o que encontrava em seu caminho. Um garoto observa assustado o riacho transbordado, e um fato chamou a sua atenção. Num remanso, como de surpresa, ele avistou uma tábua a boiar, e nela, assustadoramente, o garoto percebeu uma quantidade enorme de pulgas a se salvar das águas. As pulgas eram de fato, uma constante na vida dos pioneiros. Não só na vida, mas principalmente nos pés inflamados das crianças.
Nesta torrencial chuva, a labareda do fogão de uma família foi apagada. Era necessário achar fogo para aquecer a família e secar a roupa. Como na época não se disponibilizava de regalias modernas, como isqueiro e fósforo, o chefe da casa teve de caminhar até Beato Roque para tentar trazer uma brasa acesa para novamente acender a chama do fogão.
História de um povo, histórias de uma comunidade, que são minhas, que são suas, que são nossas. São a vivência de um povo que teve de utilizar do espírito comunitário e altruísta para garantir a sobrevivência.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

o padre que escondeu o ouro

Era por volta do ano de 1756, as reduções jesuíticas que catequizavam índios guaranis no Rio Grande do Sul eram ameaçadas pela invasão dos soldados portugueses. Os padres jesuítas, que residiam ali com permissão da Espanha, realizavam um trabalho de evangelização dos povos guaranis. Sentindo a ameaça da invasão portuguesa, os padres decidiram esconder parte do seu ouro que haviam acumulado nos longos anos de trabalho nas missões jesuíticas.
Retiraram o ouro que estava escondido dentro de estátuas de santos, que em Minas Gerais ficaram conhecidos como “santo do pau-oco”, e incumbiram o padre José de levá-lo para um lugar seguro, que ficava numa missão jesuítica no Paraguai. Partiram em dois cavalos: padre José e o índio Juacy, carregando uma pequena riqueza em ouro. A partida foi anunciada pelo sino imponente no alto da torre. Dizem que os sinos das reduções jesuíticas eram tão fortes, que era possível se comunicar entre todas as reduções jesuíticas do Sul. Antes da partida, os dois foram abençoados pelo valente guerreiro Sepé Tiarajú, que segundo a lenda, dizem ter uma estrela brilhante na testa. Sepé acabou morrendo na batalha contra os portugueses, defendendo o povo guarani. Morreu gritando: “Esta terra tem dono!”
Os dois viajantes seguiram em trilhas indígenas que cortavam o Noroeste gaúcho, atravessavam o Rio Uruguai na região de Mondaí, seguiam pelo oeste catarinense e paranaense e terminavam em território paraguaio. Na travessia do Rio Uruguai acabaram perdendo um cavalo, levado pelas águas. Por sorte, o ouro estava no cavalo mais forte. A jornada era difícil, a maioria das picadas estavam abandonadas, e os animais selvagens eram uma ameaça.
A certa altura da viagem ocorreu o ataque de uma onça faminta, que acabou matando o jovem índio Juacy. O cavalo, também ferido, teve de ser abandonado. Restou ao padre José seguir a jornada com o ouro, motivado pela fé e pela causa jesuítica. Descansou na altura da nascente de um riacho, num local sempre utilizado por viajantes para o descanso da tropa.
Depois de carregar o ouro por um longo percurso, o padre José sabia que não iria terminar sua jornada, estava exausto. Decidiu escondê-lo e tentar assim chegar a seu destino. Queria ser lembrado como o padre que escondeu o ouro, não como aquele que o perdeu. Escolheu um lugar misterioso. Naquele dia, ou por mera coincidência ou por ação dos espíritos guaranis, o sol refletiu na parede rochosa a face de um índio, que pode ser avistada ainda hoje no solstício de inverno e de verão.
No momento em que enterrou o ouro, o padre estava num estado de transe tão profundo que todas as almas dos povos indígenas das missões se fizeram presentes. Aqueles povos, ricos de alma e de cultura, então dizimados pela violência, escolheram um lugar propício para aquele tesouro. O tesouro enterrado representa a riqueza da cultura Guarani dos Sete Povos das Missões.
A alma de uma criança Guarani foi incumbida de proteger aquele tesouro. Dizem as bocas do povo, de que aquela criança vaga pelas matas e chora durante a noite. Somente pessoas puras e sinceras podem escutar este choro, o qual representa uma pista para o tesouro Guarani. Esta misteriosa alma foi chamada de “Baixinho” e pode ser ouvida no Sítio Roncador, no interior do município de Paraíso. Diz a lenda de que aquela alma está presa ao tesouro, esperando que alguém capacitado o bastante a apareça para libertá-la.
Para quem quiser conhecer, deve conhecer o Sítio Roncador na época de inverno ou verão, para perceber o rosto indígena emoldurado nas rochas. Quem sabe você não escuta o “Baixinho” a chorar e encontra o tesouro escondido?
Jamais se teve notícias do padre José.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Histórias do velho oeste: o dia em que pastel de tigre virou herói

Esta é mais uma daquelas histórias típicas do velho oeste. Fatos que viraram lenda na boca povo. Episódios pitorescos, amedrontadores, casuais, trágicos, que de tão anormais beiram ao ridículo ou ao improvável. Histórias de um povo, como esta do dia em que um cão franzino enfrentou um tigre.
Alberto era um caçador da fronteira, possuía um aparato completo para adentrar ilegalmente na mata da Argentina, e com seu grupo de amigos, divertir-se e arriscar-se na caça de animais silvestres. No entanto, nos últimos dias, Alberto e seus amigos vinham enfrentando um grave problema: a ameaça de um tigre. Sim, acreditavam ser um tigre que uivava na madrugada e matava os cães de caça do grupo. Estavam enganados, pois se tratava na verdade de uma onça, pois sabemos que em nossas matas jamais existiram tigres.
O grupo estava decidido a encontrar uma maneira de acabar com a ameaça da onça malvada, que buscava no seu mais natural instinto, garantir a sua sobrevivência. A decisão de acabar com o tal tigre foi tomada no dia em que ele matou o cão mais hábil do grupo de caçadores, o “Chole”, magrelo, mas que tinha uma destreza capaz de liquidar com porcos do mato e com cobras das mais venenosas. Era necessário achar uma forma de reparar essa perda, e a forma encontrada foi acabar com o tigre.
Decidiram armar uma armadilha, ein Fahl, feita a base de espingardas, que consistia numa isca capaz de chamar a atenção da presa, que adentrando na armadilha acionava o gatilho das espingardas. Dispuseram todas as espingardas na forma que todas elas convergissem para o centro, e com cordas condicionaram a armadilha perfeita. Se o tigre esbarrasse em alguma destas cordas, seus dias estavam contados. Mas o grande problema foi achar uma isca, pois naquele dia não conseguiram capturar nenhum animal para tal, vendo que estavam mata adentro, longe da fronteira, a beira do Rio Jabuti.
Alberto sabia que no grupo de cães havia um que, de tão magro era possível se fazer um raio-X com um foque. Ele possuía um valor muito mais sentimental do que prático, era muito fraco para ser um cão caçador em potencial.
Estava tomada a decisão, a noite se aproximava e era preciso armar a armadilha e partir, pois havia o perigo de uma chuva que se aproximava. Alberto amarrou seu pequeno cão, que de tão desprezível, nem nome tinha. Partiram com a certeza de que conseguiriam matar o tigre, e partiram também convictos de que a perda daquele pequeno cão não significaria nada para o grupo.
Durante a noite ocorreu uma chuva torrencial, e todas as armas Salon falharam, menos uma, de fabricação caseira, que acabou dando o tiro fatal no tigre. O pequeno cão, de tão amedrontado, havia se enrolado na corda que o amarrava, e se demorasse ainda pouco mais, acabaria morrendo sufocado.
Quando os caçadores retornaram no dia seguinte, encontraram o improvável. O cão franzino, feliz de ver novamente seu dono, e o tigre morto, com um tiro no pescoço. Todas as armas falhadas pela pólvora molhada, e somente a arma de Alfredo descarregada com um tiro certeiro.
Todos os caçadores comemoram com tiros e garrafas de cachaça que carregavam nas sacolas. Somente Alfredo olhava aquela cena, quieto, mas muito orgulhoso. “Der kleine Hunt, woh keine getankt hat, hot uns geret”, pensou ele.
– A partir de hoje - declarou Alfredo - este pobre cão merecerá um tratamento especial, vou eu mesmo tirar todas as bernes que o enfraquecem, e ele será meu companheiro fiel, o pastel de tigre, o cão que virou um herói.
Esta é mais uma daquelas histórias de caçador, típicas do homem de fronteira. É uma história do nosso velho oeste. Verdade ou não, o leitor que decida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Aprender com os viajantes

Causou grande impacto entre os leitores do Jornal Expressão, o espaço “filhos de nossa terra” da semana passada que publicou a entrevista do jovem Edson Walker. O filho de nossa terra atualmente viaja pela Nova Zelândia, buscando conhecer outras formas de ver o mundo. Entre seus caminhos já percorridos, além da Nova Zelândia, está a missão voluntária na África e a viajem de bicicleta pelo Nordeste brasileiro com um amigo japonês e dois americanos. Ele não quis revelar publicamente, mas nos informou que seu próximo destino deve ser a Índia.
Muitas pessoas ficaram maravilhadas com o espírito de liberdade expresso nas palavras do jovem Edson Walker, tendo inclusive, muitas manifestações de novos aventureiros dispostos a seguir o mesmo caminho.
Mas o que é esse sentimento que se manifesta nas pessoas? Essa vontade de largar tudo: emprego, família, faculdade, amigos, para se entregar ao mundo numa viagem sem destino e sem limitações? Esse desejo de viajar sem compromisso a lugares inóspitos não é alimentado somente pelo desejo de conhecer novos lugares e novas pessoas. É alimentado sim, principalmente pelo desejo de se desprender da vida material do cotidiano, de uma situação de desconforto causada pelas responsabilidades da vida, como o trabalho e o compromisso com a família. É alimentado também pelo desejo de buscar uma identidade, uma perspectiva de vida que a família, a escola e o trabalho ainda não foram capazes de fornecer.
Mas essa tarefa a que muitas pessoas estão se dedicando neste momento não é uma tarefa para qualquer pessoa. Acompanho muito estes viajantes, leio histórias sobre eles, e algumas coisas todos eles têm em comum. É preciso estar desapegado de objetos materiais, estar aberto para novas experiências, saber controlar o medo, estar disposto a novas relações e possuir a capacidade de se adaptar constantemente a novos padrões de vida. Ou seja, é necessário ser uma pessoa receptiva para novas experiências.
Estas situações vivenciadas por estes viajantes deve ser uma lição para nós, que vivemos presos ao trabalho e à família, e escolhemos estar preso a isso porque queremos isso, queremos uma estabilidade, uma garantia de conforto. Os viajantes solitários nos ensinam de que jamais devemos deixar de aprender, de valorizar outras visões de mundo, de ser tolerante. Para aqueles que pensam que já estudaram o bastante, o viajante nos ensina de que, por mais que nosso currículo seja extenso, há sempre algo que não conhecemos e não dominamos, e que, a qualquer momento este algo desconhecido fará parte de nossa vida profissional, e devemos estar dispostos a enfrentá-lo.
Aprendi com o Edson de que é necessário estar distante para começarmos a valorizar o que temos. É preciso estar distante da família para sentir saudades e valorizá-la. É preciso sair da escola para valorizar os ensinamentos dos professores.

Incomoda-me ver...
Que a estabilidade faz com que as pessoas pensem que a plenitude da vida já foi atingida. Geralmente as pessoas morrem já com trinta e poucos anos, mas são enterradas somente com sessenta.

Alguém já dizia...
“Acho que quanto mais eu viajo, mais eu valorizo o fato de ter crescido no interior, de ter tido professores dedicados e de pertencer a uma família que sempre me deu apoio e me deixou livre para seguir meus sonhos.” Edson Walker

Para quem quiser saber mais
Viajem de volta ao mundo numa bicicleta


Página de fotos de Edson Walker

terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre democracia....

Vivemos numa democracia, e como tal, temos uma nação governada pelas vontades e anseios da maioria. Mas até que ponto a maioria tem a razão? Será que a vontade do povo é a vontade correta para o futuro de uma nação? Será que a democracia é sábia ou é ingênua, alienada ou ignorante?
Difícil tirar uma conclusão, partindo do pressuposto de que a grande maioria da população deste país declara abertamente de que não gosta ou não se interessa pela política. Como acreditar que a democracia é justa quando o voto democrático representa, conforme a realidade apontada, os desejos de uma massa que não possui uma consciência definitiva sobre o que é certo ou errado em termos de política para a nação brasileira? Há um projeto de país? O povo brasileiro tem um projeto de país?
Já dizia Boris Casoy: “o maior castigo para aqueles que dizem não gostar de política, é a sentença de que serão governados por aqueles que se interessam.” Talvez seja como aquele poema: de tanto ver triunfar as maldades, a desonra e o roubo, o cidadão brasileiro desiste de suas virtudes, e passa a ter vergonha de ser honesto.
O problema da democracia neste país é que ela está submissa a uma gama de fatores tais como, a fome, a miséria, o assistencialismo, o coronelismo, a falta de consciência, de responsabilidade.
A democracia no Brasil se encontra endêmica, afetada por “pestes” que ameaçam a sua integridade e muitas vezes a tornam fraca. Mas como a nação brasileira se trata de um organismo vivo, pode se adaptar a esses males, criar mecanismo de resistência. Qual a cura para as mazelas da democracia no Brasil? Talvez educação. Mas é preciso muito mais do que isso. Educação para a política não se faz simplesmente com escolas, se faz com uma sociedade comprometida com um projeto de país. Faltam sonhos para o povo brasileiro.

E o povo brasileiro, que dorme em berço esplêndido, percebe que seu sonho pode virar um pesadelo. Isso pode acontecer quando não se presta atenção nas mãos que balançam o berço.

segunda-feira, 16 de março de 2009

COLUNA CONVERSA DE PROFESSOR

Reportagem da Revista Veja do dia 4 de Março, novamente jogou um balde de água fria na empolgação referente ao projeto de lei federal que regulamenta o sistema de cotas raciais nas universidades federais. O projeto “exige mais atenção do que a justeza da causa sugere: ele pode ser igualmente ruinoso para os negros e brancos brasileiros”, concluiu a revista.

As instituições federais seriam obrigadas a garantir 50% de suas vagas para alunos vindos de escolas públicas, dentre estes, negros, pardos e índios serão os principais beneficiados. “O projeto visa a ampliar a presença desses grupos étnicos e raciais no ensino superior. O objetivo é justo.” Conforme o projeto estas raças seriam as mais prejudicadas historicamente na sociedade brasileira.

A primeira questão polêmica que a Revista Veja reflete é se o papel das universidades federais deve passar a ser o de reparar injustiças históricas. “As universidades existiram desde sempre para produzir conhecimento. A produção de conhecimento de qualidade só é possível em ambientes de porta de entrada estreita e com rígido regime de mérito.” Se o projeto foi aprovado, metade dos que ingressarão nas universidades federais terão como passaporte de entrada o vago e cientificamente desacreditado conceito de raça.

“Adeus ao mérito individual. Com ele se despedem também a produção de conhecimento e o avanço acadêmico. Deve haver formas menos destruidoras de reparar injustiças históricas”, concluiu a Veja. Conforme a revista, a contaminação ideológica é o ponto fraco do projeto. “Por qual critério se chegou ao percentual de 50% das vagas das universidades federais para cotistas?”

“Algumas das maiores e mais vergonhosas tragédias da história foram plantadas, cultivadas e colhidas pelo ódio racial produzido por políticas públicas racistas – a escravidão, o holocausto o apartheid. È ingênuo pensar que o progresso social se acelera quando o estado inverte o sinal de modo que um grupo racial historicamente derrotado possa, finalmente, triunfar sobre seus algozes. Isso produz mais ódio.”

Conforme a Veja, as cotas não resolvem as desigualdades sociais. Os defensores das cotas dizem que está na hora do Brasil reconhecer a dívida histórica com os descendentes de escravos. Sabemos que na história do Brasil muitos negros conseguiram sua alforria, e em seguida, acabaram se tornando donos de outros escravos, como é o caso de Chica da Silva, por exemplo. E se um descendente de Chica da Silva for injustamente beneficiado com as cotas raciais?

Particularmente, eu sou descendente de brancos. Meus avós vieram da Romênia e Alemanha, eram extremamente pobres, ou seja, assim como os negros e índios, discriminados econômica e socialmente. No entanto, se eu fosse candidato a uma vaga na universidade, seria discriminado em relação aos negros, tendo nós dois inclusive, um passado idêntico. Engana-se quem acredita que meus avós possuíam a liberdade de trabalhar, diferentemente dos negros, que viveram na escravidão. Já passa mais de um século do fim da escravidão no Brasil, ou seja, em termos de trabalho, nossos avós, tanto brancos como negros, possuíam uma liberdade de trabalho.

Mas a conclusão que mais chamou a minha atenção na reportagem da Revista Veja, foi a de que “o verdadeiro problema da educação brasileira é o ensino básico. As vagas destinadas a negros, índios e pardos teriam vantagens sobre aqueles “rejeitados pelo simples fato de terem nascido brancos e de pais que suaram a camisa para galgar um degrau mais alto da pirâmide social brasileira. Os efeitos de longo prazo dessa injustiça são ruinosos. Ela pune o esforço o individual e cria uma casta de profissionais das cotas.”

Como se pode ver no Brasil as políticas públicas, tanto na educação, na saúde e segurança púbica servem para tampar buracos, fazer remendos. Nada muito sério. Para quem trabalha em escolas públicas percebe o quanto se dissemina o aluno “bolsa família”, ou seja, aquele que será beneficiado unicamente por uma política de estado. Está na hora de beneficiarmos o esforço individual da mesma forma como se busca corrigir injustiças históricas.

terça-feira, 3 de março de 2009

CONVERSA DE PROFESSOR

Em Manaus uma professora foi afastada por ser acusada de colocar fita adesiva na boca de duas crianças. Conforme a Secretaria de Educação de Manaus, essa atitude da professora pode ser explicada pelo stress ou depressão. Não sei qual o objetivo da professora em tomar tal atitude, se era para calar os alunos, ou humilhá-los perante os colegas. Convenhamos que foi uma atitude impensada, e sejamos francos, pouco inteligente.

Mas, no entanto, temos de considerar o estado emocional a que os professores estão expostos em sala de aula, principalmente quando levamos em consideração a situação da lotação das salas e do comportamento medíocre de muitos alunos na escola. Para quem é professor entende do que estou falando: em algumas situações chegamos a pontos extremos que, se não houvesse um controle emocional por parte do professor a reação poderia ser muito pior do que simplesmente calar os alunos com fita adesiva.

É de conhecimento de todos que nos últimos anos o papel do professor na sociedade sofreu profundas alterações. Passamos de uma personalidade ativa na comunidade, aquele típico professor comunitário, vinculado ao caráter colonizador, para um agente pouco reconhecido, desvalorizado, desrespeitado e pouco influente.

Convenhamos que muito disso também é culpa do próprio professor, pois ele, em muitos casos, não consegue se impor em sala de aula, tanto pelo conhecimento como pela didática. O professor respeitado em sala de aula é requisito básico para o respeito fora da escola. Ao longo de minha vida estudantil tive professores que impunham autoridade porque tinham conhecimento, porque tinham talento e carisma. Infelizmente no magistério temos figuras que, por não desejarem trabalhar como operários, escolheram se aventurar numa sala de aula.

No entanto aponto outro fator preponderante para a desvalorização do professor. Temos uma sociedade que de maneira geral, não dá o devido valor para a educação. Se não damos o devido valor para a educação, acabamos por desrespeitar todo o sistema vinculado à ela, desde o edifício da escola à figura do professor.

O que faz com que os alunos venham para a escola com a total falta de senso sobre respeito ao próximo, à disciplina e às regras institucionais? Alerto para o problema familiar, pois, muitos alunos recebem uma educação errada de seus pais. Na minha infância apanhei muito de meus pais, de vara mesmo, e hoje sou realmente grato a eles por isso. Não quero ser moralizador e disciplinador, mas percebo que hoje se fala muito em direitos da criança e do adolescente, e se esquece dos seus deveres.

Lembro que na escola que cursei a educação básica tive professores rígidos. Ainda vivenciei aquela época em que os alunos indisciplinados apanhavam com a régua. Será que algum deles guardou algum trauma? Talvez sim, mas temos de destacar que esta educação tradicional, a popular “pedagogia da vara”, tinha algo de realmente bom, que era a disciplina.

Professores que têm talento e conhecimento não precisam fazer uso de fita adesiva para calar seus alunos, ele os silencia com suas palavras, sua autoridade e simpatia.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

CONVERSA DE PROFESSOR

O que mais me preocupa na educação é instruir meus alunos a se preocupar com o futuro, mesmo que essa tarefa seja difícil com o público adolescente. Não há como pensar o processo educativo das pessoas sem ser trabalhada a questão da sensibilidade dos adolescentes em pensar no amanhã.

A preocupação com o futuro é o pré-requisito básico para trabalhar outros temas importantes para a formação educacional, dentre eles estão a questão ambiental, a responsabilidade social, a ética, a política, a religião, a ciência.

A escandalosa entrevista que Jarbas Vasconcelos concedeu para Revista Veja na semana passada, chamou a atenção pelas acusações de corrupção e clientelismo presentes em seu partido, o PMDB. No entanto da fala do Senador Vasnconcelos o que chamou mais a minha atenção não foram essas acusações políticas, mas sim, o que ele falou sobre o futuro da política no país. Sobre a corrupção e o sentimento de impunidade “é possível mudar, mas isso é um processo longo, não é para essa geração. Não é só mudar nomes, é mudar práticas.”

Como fazer com que os adolescentes, que são a geração à qual o Senador se referia, tomem gosto e se preocupem com o futuro político do país? A meu ver estamos construindo uma geração totalmente apolítica, que não tem preocupação com o futuro e não cultiva ideais.

É claro, é preciso estar atento sobre o momento da vida em que as pessoas começam a ter noções claras de temas de tamanha complexidade. Adolescentes tem mentalidade capacitada para entender aspectos relacionados ao futuro? A partir de que momento da vida estamos prontos para compreender questões tão complexas?

Como fazer o jovem estudante entender que as suas notas e o seu desempenho na escola podem ser decisivos no seu futuro? Vejamos o caso do Prouni, por exemplo, que leva em consideração o desempenho e o histórico escolar do aluno ao longo do Ensino Médio.

Constantemente vejo alunos do Ensino Médio comentarem sobre possíveis cursos e carreiras que possam ser seguidas no futuro. Mas o que percebo é que há muitos sonhos, muitas ilusões e desejos, mas, no entanto, pouca prática efetiva para que este sonho se torne realidade. Ou seja, há muitos garotos que querem ser jogadores de futebol, mas não entendem o significado da palavra disciplina e não possuem uma educação alimentar exigida para um profissional do futebol.

A maioria dos jovens das escolas públicas quer ter muito dinheiro e reconhecimento, mas não fazem a menor idéia do que é necessário fazer para alcançar tal objetivo. É preciso trabalhar sonhos em sala de aula, ensinar caminhos. Mas também é necessário alertar e dizer que, pela prática que a maioria dos alunos demonstra em sala de aula, é pouco provável que um dia ele possa chegar lá.

Frase da semana: "Queremos ver crianças perseguindo o conhecimento, e não o conhecimento perseguindo crianças." George Bernard Shaw

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O Desespero Humano: O Colapso De Uma Sociedade Midiática

O Desespero Humano: O Colapso De Uma Sociedade Midiática
Por Edinaldo
A fragmentação do arranjo social causada pela economia neoliberal causa naqueles intelectuais que vislumbram uma restauração ou uma reestruturação da sociedade um certo desconforto que beira a um colapso de nervos. Eles enxergam e chamam a atenção da massa de trabalhadores, pais e alunos que compõem o grande público consumidor do mass media e dos seus anúncios, a atuação cada vez mais massiva e desvirtuadora dos meios de comunicação de massa e da economia na sociedade mundial, e para o processo cada vez mais sutil e imperceptível de alienação e do esfacelamento da criticidade social causada por esses meios.
Facilitando a comunicação entre os povos e proporcionando uma relação global jamais vista, os meios de comunicação de massa, influenciou e influencia o comportamento das pessoas desde sua fala até seu modo de andar, comer, vestir, namorar, etc. é importante o contato cultural com outros povos e nações para o enriquecimento intelectual, porém a intelectualidade está em segundo plano quando a preocupação maior é com o espetáculo, com o ridículo, com o bizarro.
O enfraquecimento familiar, religioso e educacional na sociedade pós-moderna é fruto direto do resultado da interação da sociedade com os meios de comunicação massivos que permeiam nossa casa ridicularizando valores seculares que perpassaram o desenvolvimento humano, mas que agora são tratados como caretas, ridículos, fora da moda.
Pais e professores não sabem mais o que fazer com essa desestruturação social, jogando uns sobre o outro o ônus desse embate que deve ser trabalhado em conjunto pelos atores interessados. A desconstrução do sujeito causado pela falta de alicerces sólidos de valores seculares e metafísicos instigam na criança e adolescente que passam horas e horas em frente ao computador ou televisão a busca hedonista de prazeres superficiais e ilusórios. A idéia do aqui e agora permeia a atitude e a relação desses jovens com o meio e com o outro. A relação com o outro é antes de tudo a compra ou a aceitação passiva da imagem que é vendida por outras pessoas com suas roupas, sua maquiagem, seu corte de cabelo, etc. deixamos de ser atores sociais e passamos a objetos, espectadores estamos no turbilhão da corrente desesperada de homens e mulheres, crianças e adolescentes que buscam o sentido de suas vidas e acabam encontrando no “novo lançamento” uma fuga ilusória desse pressuposto sentido.
As identidades rompidas com a busca econômica e com a sociedade do espetáculo fazem com que nós explorados pelos meios de produção capitalista atinjam a falsa ilusão de felizardos contentando-se em poder comprar a última TV ou o último celular, mal sabendo que tudo isso é logicamente fruto de uma estratégia para acomodação social em detrimento dos reais problemas sociais. Pensamos que o bem estar social é poder comprar bens de consumo divididos em trinta vezes no carnê. No, entanto, o problema maior está em não sabermos se esse é realmente um estado de ilusão aparente ou se de fato acreditamos que o maior acesso aos produtos industrializados ou ao reality show é a benesse que precisamos para uma vida aprazível e feliz.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Conversa de professor

Há 150 anos atrás era proclamada uma das teorias mais ousadas da história. Tratava-se da teoria da evolução das espécies, criada pelo inglês Charles Darwin. A chave central do pensamento de Darwin reside no fato de que, os homens, e os seres vivos de maneira geral, são resultados de uma evolução. Suas idéias revolucionaram as ciências, e foram encaradas como uma bomba pela sociedade de sua época.

Todo esse movimento de contestação às idéias de Darwin é sustentado justamente pelos que se sentiram atingidos pelas idéias de evolução natural das espécies. A Igreja condenou as idéias da evolução natural das espécies porque elas se contrapõem às idéias criacionistas. Ou seja, as idéias de Darwin não foram bem aceitas por aqueles que acreditavam que a origem do homem e das espécies é divina.

Darwin buscou comprovar que todas as espécies descendem de um ancestral comum, uma forma de vida simples e primitiva. No entanto, na própria ciência as idéias de Darwin sofreram, e ainda sofrem resistência, devido a suposta escassez de comprovações científicas do método utilizado por Charles Darwin no século XIX.

Mas onde estou querendo chegar com toda esta polêmica? Quero levantar uma questão que acredito ser importante no ambiente escolar: o que estamos ensinando para os alunos? Ou seja, em Ensino Religioso se ensina as idéias do criacionismo, da criação do homem e do mundo através de um Deus. Já na disciplina de Biologia se ensina o evolucionismo científico. De que forma o aluno reage perante esta confusão de conceitos? Damos a liberdade para o aluno ter um posicionamento? Ou seja, se na disciplina de Biologia, o aluno responder a questão da evolução humana através da visão criacionista, qual será a reação do professor?

O aluno, dependendo é claro de sua formação familiar e comunitária, possui todo um conhecimento adquirido na família, na igreja e na comunidade. Qual a autoridade da escola em julgar todas estas explicaçõs divinas sobre a criação do universo que o aluno herdou da tradição familiar?

No livro didático de História do Mário Schmidt, ele inicia o capítulo da evolução humana, sugerindo que o aluno peça a explicação sobre este tema ao professor de Biologia. Isso é um erro. O professor de História, bem como o professor de Ensino Religioso e Filosofia, também tem autoridade para explicar a formação do pensamento humano sobre este tema da criação humana.

Entender a origem das coisas sempre foi um verdadeiro mistério para as civilizações antigas. A civilização grega, considerada o berço do pensamento racional, era regida essencialmente pelas explicações divinas das existências terrenas. Ou seja, tudo era explicado por deuses.

Lembro que o professor Roque Strieder disse certa vez de que é novamente necessário aproximar a ciência da fé. O pensamento racional precisa novamente ter um teor de crença, mistério e fé. É necessário, e é possível, unir evolucionismo e criacionismo. Que seja o homem descendente natural de outra espécie. Mas do que custa acreditar que há uma força divina que rege todas estas leis naturais?

Frase da semana: “Serão os homens um erro dos deuses, ou serão os deuses um erro dos homens?” Nietzsche.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Da alforria ao cárcere - por Fábio Heinen

As conquistas angariadas pela sociedade – desprivilegiada de condições remuneradamente cabíveis a ter acesso às informações necessárias para o desenvolvimento da superação do sistema alienador – sempre foram através das lutas sociais – não é nem preciso estudar História para compreender tal realidade, especialmente no Brasil – e manifestações legais e de direito do todo o cidadão, ou, do ser humano, como queiram. O Brasil foi palco de muitas transformações político-históricas desde sua “descoberta”. Passou por fases que hoje encaramos como perplexas e severas. Recentemente saímos de um período de trevas da História do Brasil, ou seja, Ditadura Militar (1964-1985) que durou, explicitamente, cerca de 21 anos deixando seqüelas estarrecedoras, matando e calando muitas vozes que lutavam por uma situação dissemelhante àquela em que se encontravam. No entanto, muitos objetivos foram alcançados pelo mérito das possibilidades oposicionais. É o que poderíamos chamar de “democracia consentida”, ou seja, deixar o bolo crescer para depois repartir, apenas a alguns. O bolo cresceu realmente, só que esqueceram de repartir e é por essas e outras que a intensificação das lutas sociais aumentaram no país...
Ao decorrer da história dos acontecimentos, constrói-se no Brasil, uma idéia diferente da instituição governamental vigente – talvez pela própria necessidade de uma divergência de valores estruturais – que fez com que a sociedade vivesse uma nova dimensão de perspectiva política. Ícone do socialismo e lutador específico dos direitos dos trabalhadores, essa estrutura consolidou-se em um novo partido político, com ideais e ideologias, sonhos e filosofias, justamente para poder oportunizar um novo ciclo de bem-estar social no país. Porém, o caminho era longo e as dificuldades obscureciam a visão. Mas de tudo o que se quer, quase tudo se consegue, e, chegou o momento da “mudança”: Quebram-se correntes, varrem-se réstias e cacos do passado e elege-se o “cavaleiro da esperança”, para alegria de muitos e tristezas de outros muitos. Prova de liberdade e democracia, pois após um período de nebulosidades e chuvas ácidas, surge o sol, vermelho, quente de início e que vai ficando abrasador...
As entidades facultativas dos direitos e deveres sociais, muitas vezes recaem sobre nossa visão deixando-nos, por ora, quase cegos e até mais alienados do que estamos. Se temos direitos, não é pelos deveres que os usaremos, mas pela oportunização concedida através das lutas sociais históricas. Não se sugere também utilizar o dever com o entendimento de trocas de favores, mas pela limitação consciente dos direitos. Esse “toma-lá-dá-cá” foi uma politicagem envergadamente usada pelas forças de poder em épocas de autoritarismo, governos monárquicos, déspotas e absolutistas, nos quais a sociedade sofrera grandes insatisfações sociais, culturais e, inclusive profissionais, ou seja, favorecimento de alguns indivíduos com “cargos de confiança” totalmente e, alguns em parte, despreparados para assumir tais tarefas, e em troca, preconizando as próprias bases estruturais políticas, alegando vitória por auto-mérito em detrimento de outros que efetivamente alcançaram seus ápices profissionais através de inerente aptidão intelectual.
A crítica aos movimentos sociais no Brasil é uma constante, embora em alguns casos com muita razão deve ser referida. Faz-se necessário então, ter um ponto de visão livre e desengatado das peripécias partidárias, para podermos não citar o senso comum como uma verdade a ser válida. Geralmente esses críticos de plantão, sem fundamentação coerente com a realidade dos fatos, são os indivíduos que nutrem a estrutura pífia e austera da situação em relação às manifestações que ocorrem em função das reivindicações de melhorias trabalhistas. No entanto, esquecem-se que também são beneficiados e que se ocupam lugar no espaço de trabalho, sem diminuir seus possíveis méritos, estão barganhando e dividindo das mesmas oportunidades que outrora foram conquistadas pelas lutas sociais que hoje criticam. Talvez gostariam que as formas de governo voltassem aos seus estados de sítio, ou queriam trocar democracia pelo uso da força absolutista, ou que a organização social seja submissa ao poder monárquico e conservador. Se assim o quiserem, talvez seja mesmo necessário que estudem um pouco de História...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Achada Bíblia antiga escrita na língua de Jesus


Volume está escrito em siríaco, dialeto do aramaico falado por Cristo.
Autoridades dizem que artefato pode ter 2.000 anos; estudiosos duvidam.

Autoridades do norte do Chipre, região controlada pela etnia turca, afirmam ter apreendido uma Bíblia que poderia ter quase 2.000 anos após uma investigação contra traficantes de antiguidades. O códice está escrito em siríaco, dialeto aparentado ao aramaico falado por Jesus e pelos judeus da Palestina no século I de nossa era. A obra ainda precisa ser avaliada em detalhes por especialistas, mas alguns pesquisadores que tiveram acesso a fotos avaliam que a tinta dourada e a caligrafia sugerem uma idade mais recente, da Idade Média em diante.

Fonte: Globo.com

sábado, 24 de janeiro de 2009

CONVERSA DE PROFESSOR


Todas as férias escolho um livro que me acompanha em todos os lugares. Geralmente procuro optar por um livro de leitura fácil, prazerosa e diferente de tudo que leio durante o ano. Nunca gostei de ler biografias, iniciei algumas na época da faculdade, como por exemplo, o livro que relata a biografia de Antônio Carlos Magalhães. No entanto, decidi ler uma biografia que chamou a minha atenção. Trata-se da história de vida de Saul Hudson, mais conhecido como Slash, famoso guitarrista de uma banda norte-americana chamada Guns N´ Roses.

Slash ficou famoso na década de 1980 pelo seu talento como guitarrista, mas principalmente pelo seu estilo de vida completamente fora do normal. Envolvido constantemente em confusões, numa vida regada com muito álcool e drogas, Slash foi um daqueles jovens típicos do seu tempo, que levou a cabo o ditado: sexo, drogas e rock n´roll.

Pode assustar um professor ler este estilo de livro, mas sempre falo para meus alunos o seguinte: para quem está aprendendo na vida, é sempre importante nos espelharmos em outras pessoas. No entanto, não devemos somente olhar para pessoas que devem ser seguidas, mas também olhar para aquelas pessoas que não devemos seguir. Se não sabemos para onde ir, pelo menos devemos saber por onde não ir.

Por mais que as pessoas pareçam serem maus exemplos, elas sempre têm algo a nos ensinar, e o guitarrista Slash me deixou muitas mensagens interessantes. Uma delas se adapta a realidade de nossas escolas. Num trecho de sua biografia, Slash dizia que “tudo aquilo que você faz ou traz para o mundo, você receberá de volta de alguma forma, numa intensidade igual ou até maior.”

Acredito que uma das funções da escola, é justamente ensinar essa mensagem para nossos alunos. A grande maioria dos adolescentes e jovens não tem a noção disso, ou seja, são inconsequentes. Se não estudam durante o ano, não conseguem entender que isso refletirá no final do ano, quando lamentarão a sua reprovação.

Da mesma forma, muitos adolescentes não tem a menor noção de projetar o futuro. Por que devo freqüentar a escola? O que isso trará para o meu futuro? Que reflexo terá sobre minha vida o grupo de pessoas com as quais convivo? Muitos jovens almejam ganhar muito dinheiro no futuro, mas a grande maioria deles, não sabe que está trilhando caminhos errados, ou seja, não tem a menor noção de como chegar lá.

Slash relata em seu livro que na época em que estava envolvido com drogas e era viciado em álcool, não tinha a menor noção do quanto isso iria interferir em seu futuro. No livro ele complementa que soube assimilar o momento em que havia passado dos limites, que era necessário parar. Mas da mesma forma, muitos de seus amigos se perderam no mundo do vício, morreram de overdose ou faliram financeiramente. Também relata que, um dos fatores responsáveis pelo fim da banda Guns N´ Roses, que fez muito sucesso na época, foram justamente as drogas, o álcool e o estilo de vida sem limites.

A próxima biografia que pretendo ler será a história de Abílio Diniz