segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

(IN) DIRETAS

Como professor que convive o cotidiano de uma escola, sinto algumas deficiências que me deixam realmente entristecido, em alguns casos, até enraivecido. Escrevo porque sinto na pele as dificuldades de ser professor de escola pública, de trabalhar num setor considerado essencial para o progresso do país, mas que na maioria dos casos é tratado pela população e pelos governantes simplesmente como um gasto necessário.

Aliás, muitos escrevem sobre educação sem nunca ter pisado numa escola. São os doutores que não saíram das quatro paredes da universidade e elaboram teorias mirabolantes sobre o que deveria ser a educação ideal.

Aliás, não são somente os teóricos universitários que nunca entraram em sala de aula, temos elementos que são dirigentes educacionais do Estado, que nunca, mas nunca mesmo, foram professores. Querem administrar a educação, mas nunca experimentaram administrar uma 5ªsérie com 41 alunos. Administradores não dão muito certo na educação, pois são especializados em “cortar gastos”, o que sinceramente, para a educação é um crime.

Neste ano, pela primeira vez, tenho quarenta aulas dadas. É uma carga tão maçante e delirante que em alguns momentos não lembro ao certo o horário e em que altura do debate paramos de uma aula para outra. Olha que essa carga é pequena comparada aos heróis das aulas “dadas”, os quais conseguem achar força e "inteligência" para trabalhar 60 horas semanais. É duro ter que agüentar uma carga horária dessas para garantir um salário “um pouco mais digno”.

Difícil mesmo é achar vontade e tempo para cumprir a tal da “hora atividade”, para uma carga horária de 60 horas semanais. A hora atividade fica para o domingo, depois da missa.

E a Secretaria de Educação está fiscalizando os professores que não preenchem corretamente o Diário de Classe. Cuidado para não errar com as bolinhas das presenças e as cruzinhas das faltas. Essa burocracia é de fato um atentado a intelectualidade. Não consigo achar tempo para fazer chamada durante as aulas, muito menos para preencher todas aquelas “caixinhas”. Existem professores que levam 10 minutos para fazer a chamada (e preencher as caixinhas), mais 10 para acalmar a turma, mais 10 para conferir se todos fizeram o tema, sobrando somente 15 para a aula, de fato.

Novamente faltam livros didáticos nas escolas públicas de Santa Catarina. De quem será o erro? Acho que foi da secretária da escola que não soube preencher corretamente as “caixinhas” do censo escolar.

É impressionante como os professores sofrem com a demora nos processos enviados ao setor de recursos humanos em Florianópolis, tais como aposentadoria, acessos ou incorporações. Enviei no mês de Setembro de 2007 um processo para anexar meu primeiro triênio. Passados todos esses meses e nada até o momento. Isso que estamos em plena era da informatização. Está na hora na descentralização chegar até a Educação.

Há um professor que reclama constantemente na sala dos professores de que seus alunos nada lêem. Caro amigo professor, você lê algo? Não? Cala-te, portanto!

Não quero dar uma de Celso Prates, mas senhores pais, por favor, dêem mais atenção a seus filhos. Acompanhem seu andamento na escola, sentem com eles para ler. Penso sinceramente, que os filhos são um investimento a longo prazo e, por isso, não se surpreendam quando futuramente vocês forem abandonados num asilo. Seu filho estará retribuindo a educação que recebeu quando criança

4 comentários:

Fátima Franco disse...

Oi, Douglas:
acho que suas reflexões são as de todos os professores. Além de tudo ainda temos que preencher caixinhas.Quanto aos livors que estão faltando em sua escola, vc mesmo pode ligar pro MEC, no 0800616161, para saber o que aconteceu.
Quanto ao conselho para os pais,excelente! Quem não lê não conhece o mundo . Taí o livro que vc citou no post abaixo, que é uma obra prima de uso da linguagem.Mas, para entender todos os recursos utilizados pelo autor, tem que ser um bom leitor. Senão é só mais uma história do tempo da guerra.
Abs

Daniel Giandoso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Daniel Giandoso disse...

Aqui em São Paulo, o governador e a secretária perceberam que os alunos saem da escola sem saber ler, escrever e contar... Nossa!!! novidade só para eles!!! Então, armaram uma operação resgate. Temos de trabalhar com um jornal que foi feito especialmente para lidar com a tragédia nos próximos 42. Mais uma solução fantástica... pode mandar jornal, computador, foquete espacial o que for... se não houver mudanças estruturais profundas na educação de que adiantará? Esse ano acho que vou fazer alguma coisa pra encher o saco dos burocratas lá da secretária de educação. Mandar uma carta de aluno toda semana pra lá. Adiantar não vai, mas pelo menos será divertido imaginar alguém tentando ler o que o aluno escreveu nela... RSRSRSRS!!!
Coragem amigo!

Anônimo disse...

soh