Uma das maiores dificuldades da escola é trabalhar a disciplina. Ela pode ser entendida e discutida sob dois aspectos: como organizativa para fornecer o ambiente de estudo e como disciplinadora, para conter a criatividade e a heterogeneidade de idéias.
Enquanto escrevo este artigo os estudantes estão fazendo uma atividade de pesquisa. Trata-se de uma 6ª Série de 36 alunos. A disciplina numa turma numerosa como essa é essencial. Nessa faixa etária eles são muito inseguros, perguntam tudo sempre sobre as mesmas coisas: como fazer? Pode fazer com caneta? Pode usar corretivo? Não entendi professor! O professor Hugo Bohnenberger de Pitangueira estabeleceu uma quota de uma pergunta por aluno. Isso pode conter a curiosidade, mas também evita as perguntas tolas e desnecessárias.
Existem dias em que não conseguimos trabalhar conteúdos, somente tentamos conter a empolgação e a indisciplina dos alunos (nestes dias geralmente vai para chuva). Essas aulas são tão chatas e estressantes e ocorrem principalmente em turmas numerosas. Não entendo como os governantes não reduzem a quantidade de alunos por turma. Isso sim seria investir em educação com qualidade. Com poucos alunos por turma você pode conversar com cada um, saber da suas vidas, das suas deficiências e qualidades.
Como professor tenho muita dificuldade de lidar com alunos indisciplinados, principalmente se eles forem agressivos verbalmente. As vezes “explodo” com algum aluno e logo depois me arrependo de ter utilizado esse vigor enérgico. Com muitas aulas e nunca momento de irritação, você chega ao absurdo de dizer coisas do tipo: “por que você vem para escola, fique em casa!” “Vem na escola somente para comer merenda?” São situações que inibem o processo educativo, mas que são conseqüências da estressante tarefa de ser professor na atualidade. Aliás, xingo muito para alunos indisciplinados porque não tolero essas atitudes em minhas aulas. No entanto, quando saio da sala me sinto muito mal.
Muitos pensadores da educação condenam a disciplina utilizada pela educação no passado. Era uma pedagogia repressora, moralista e disciplinadora. Certamente nessa pedagogia, os alunos eram muitos quietos e seus corpos rígidos. Mas acredito que a criatividade e o espírito inovador e questionador era reprimido. Muitas pessoas reclamam dos efeitos que essa educação teve sobre sua vida: medo, obediência, subordinação, falta de sonhos e perspectivas. A “decoreba” estava muito presente nessa pedagogia, não se falava em consciência. O bom dessa popular “pedagogia da vara” era a disciplina, que consequentemente acarretava num certo conhecimento.
Hoje os estudantes têm mais informações, mas tem mais indisciplina. O ideal seria unir disciplina e aprendizagem. Como fazer isso? Eis a grande questão! Os melhores resultados do ENEM são de escolas que tem a disciplina como ponto central.
Em primeiro lugar, não haverá disciplina na escola se não houver disciplina na família. Os pais são peças chave no processo educacional. Produção e conhecimento somente serão efetivos com disciplina. Mas a criatividade, a espontaneidade e a capacidade de contestar serão facilitadas com certo grau de indisciplina. Galileu Galilei e Nicolau Copérnico foram muitos indisciplinados perante a igreja para defender suas idéias sobre o universo. Espero que os alunos sejam indisciplinados e contestem seus professores que exigem leitura e nada lêem e que exigem escrita e nada escrevem.
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