quinta-feira, 14 de maio de 2009

Histórias do velho oeste: uns causos da comunidade de Ervalzinho

Ervalzinho era uma comunidade que se desenvolvia pacatamente às margens do Riacho Dourado. Diziam que antigamente havia por lá belos ervais, o que se torna difícil de evidenciar pela aparente escassez desta espécie vegetal naquela localidade. Mas o que se pode dizer da comunidade de Ervalzinho, é que por lá aconteceram uns causos um tanto interessantes.
A começar pela prática do bolão. No início, a cancha de bolão estava localizada no meio de um matagal, onde se encontrava duas pranchas serradas de toras, que serviam de cancha. Naquele recinto os homens, deixamos bem claro, os homens, se divertiam e tomavam cerveja. A cerveja, chamada de Morena, era fabricada em Itapiranga, e como o próprio nome já dizia, era bem escura. Muitos garotos tomaram pela primeira vez em sua vida a cerveja Morena e fumaram seu primeiro cigarro naquela cancha no meio de um matagal.
A primeira festa organizada pela comunidade foi uma verdadeira surpresa. O Padre Junges SJ, ficou incumbido de fazer propaganda da festa nas comunidades vizinhas. No dia da festa compareceram tantas pessoas, que acabou faltando comida, e as pessoas foram obrigadas a ir para casa buscar pães, cucas e bolachas para serem consumidas na festa. Um fato marcante na história religiosa da comunidade, foi a visita do Bispo da então diocese de Palmas, Dom Carlos Eduardo Saboia Bandeira de Mello, que chegou até a Ervalzinho no carro modelo 29, do senhor Reinoldo Reckziegel.
Nos primeiros anos havia na comunidade um armazém onde era depositada a produção agrícola da comunidade. E quando era vendida esta produção o armazém se transformava num aconchegante salão, onde eram realizados os bailes animados por gaiteiros. Naqueles bailes havia a temida comissão de ordem, que se responsabilizava por controlar qualquer desvio de conduta moral dos festeiros.
Nas missas o padre controlava a roupa dos fiéis. As mulheres não deviam mostrar partes de seus corpos e os homens deviam estar vestidos com calças e casacos, mesmo no calor do verão. Na festa de Jubileu de vinte e cinco anos da primeira missa, o Padre Hanzen SJ, realizou uma procissão feita com cavalos e carroças. Quando a procissão se aproximou da comunidade foram disparados muitos foguetes, o que assustou os cavalos e os bois. Muitas carroças tombaram naquele dia, bem como, muitos cavalos saíram em disparada incontrolável.
O primeiro rádio da comunidade era de propriedade do Senhor João Weiland. Muitas pessoas iam até a sua casa para se divertir com o rádio. O rádio funcionava a base de bateria e para carregá-la era preciso cavalgar até a comunidade de Dourado, na propriedade de José Eyerkaufer, que carregava as baterias com um cata-vento.
Certo dia a comunidade de Ervalzinho foi atingida por um temporal. Chuvas torrenciais arrasaram as plantações e encharcaram as residências, arrastando consigo tudo o que encontrava em seu caminho. Um garoto observa assustado o riacho transbordado, e um fato chamou a sua atenção. Num remanso, como de surpresa, ele avistou uma tábua a boiar, e nela, assustadoramente, o garoto percebeu uma quantidade enorme de pulgas a se salvar das águas. As pulgas eram de fato, uma constante na vida dos pioneiros. Não só na vida, mas principalmente nos pés inflamados das crianças.
Nesta torrencial chuva, a labareda do fogão de uma família foi apagada. Era necessário achar fogo para aquecer a família e secar a roupa. Como na época não se disponibilizava de regalias modernas, como isqueiro e fósforo, o chefe da casa teve de caminhar até Beato Roque para tentar trazer uma brasa acesa para novamente acender a chama do fogão.
História de um povo, histórias de uma comunidade, que são minhas, que são suas, que são nossas. São a vivência de um povo que teve de utilizar do espírito comunitário e altruísta para garantir a sobrevivência.

Um comentário:

Blogt do PHP disse...

Muito bom, Douglas.
Parabéns pelo blog.
Muitas histórias, algumas lendas... tudo parte da rica cultura dos povos do sul.
É preciso manter a memória desta cultura sempre viva.
Prof. Hilário Petroli