terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Da alforria ao cárcere - por Fábio Heinen

As conquistas angariadas pela sociedade – desprivilegiada de condições remuneradamente cabíveis a ter acesso às informações necessárias para o desenvolvimento da superação do sistema alienador – sempre foram através das lutas sociais – não é nem preciso estudar História para compreender tal realidade, especialmente no Brasil – e manifestações legais e de direito do todo o cidadão, ou, do ser humano, como queiram. O Brasil foi palco de muitas transformações político-históricas desde sua “descoberta”. Passou por fases que hoje encaramos como perplexas e severas. Recentemente saímos de um período de trevas da História do Brasil, ou seja, Ditadura Militar (1964-1985) que durou, explicitamente, cerca de 21 anos deixando seqüelas estarrecedoras, matando e calando muitas vozes que lutavam por uma situação dissemelhante àquela em que se encontravam. No entanto, muitos objetivos foram alcançados pelo mérito das possibilidades oposicionais. É o que poderíamos chamar de “democracia consentida”, ou seja, deixar o bolo crescer para depois repartir, apenas a alguns. O bolo cresceu realmente, só que esqueceram de repartir e é por essas e outras que a intensificação das lutas sociais aumentaram no país...
Ao decorrer da história dos acontecimentos, constrói-se no Brasil, uma idéia diferente da instituição governamental vigente – talvez pela própria necessidade de uma divergência de valores estruturais – que fez com que a sociedade vivesse uma nova dimensão de perspectiva política. Ícone do socialismo e lutador específico dos direitos dos trabalhadores, essa estrutura consolidou-se em um novo partido político, com ideais e ideologias, sonhos e filosofias, justamente para poder oportunizar um novo ciclo de bem-estar social no país. Porém, o caminho era longo e as dificuldades obscureciam a visão. Mas de tudo o que se quer, quase tudo se consegue, e, chegou o momento da “mudança”: Quebram-se correntes, varrem-se réstias e cacos do passado e elege-se o “cavaleiro da esperança”, para alegria de muitos e tristezas de outros muitos. Prova de liberdade e democracia, pois após um período de nebulosidades e chuvas ácidas, surge o sol, vermelho, quente de início e que vai ficando abrasador...
As entidades facultativas dos direitos e deveres sociais, muitas vezes recaem sobre nossa visão deixando-nos, por ora, quase cegos e até mais alienados do que estamos. Se temos direitos, não é pelos deveres que os usaremos, mas pela oportunização concedida através das lutas sociais históricas. Não se sugere também utilizar o dever com o entendimento de trocas de favores, mas pela limitação consciente dos direitos. Esse “toma-lá-dá-cá” foi uma politicagem envergadamente usada pelas forças de poder em épocas de autoritarismo, governos monárquicos, déspotas e absolutistas, nos quais a sociedade sofrera grandes insatisfações sociais, culturais e, inclusive profissionais, ou seja, favorecimento de alguns indivíduos com “cargos de confiança” totalmente e, alguns em parte, despreparados para assumir tais tarefas, e em troca, preconizando as próprias bases estruturais políticas, alegando vitória por auto-mérito em detrimento de outros que efetivamente alcançaram seus ápices profissionais através de inerente aptidão intelectual.
A crítica aos movimentos sociais no Brasil é uma constante, embora em alguns casos com muita razão deve ser referida. Faz-se necessário então, ter um ponto de visão livre e desengatado das peripécias partidárias, para podermos não citar o senso comum como uma verdade a ser válida. Geralmente esses críticos de plantão, sem fundamentação coerente com a realidade dos fatos, são os indivíduos que nutrem a estrutura pífia e austera da situação em relação às manifestações que ocorrem em função das reivindicações de melhorias trabalhistas. No entanto, esquecem-se que também são beneficiados e que se ocupam lugar no espaço de trabalho, sem diminuir seus possíveis méritos, estão barganhando e dividindo das mesmas oportunidades que outrora foram conquistadas pelas lutas sociais que hoje criticam. Talvez gostariam que as formas de governo voltassem aos seus estados de sítio, ou queriam trocar democracia pelo uso da força absolutista, ou que a organização social seja submissa ao poder monárquico e conservador. Se assim o quiserem, talvez seja mesmo necessário que estudem um pouco de História...

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