quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O papel social do historiador

Costumeiramente credenciamos características próprias de determinado profissional quanto a sua conduta e responsabilidade social. Como profissional da História, quero estabelecer um debate acerca de aspectos que considero essenciais para o historiador: o comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, e a ética na compreensão de fatos históricos.
Como educador, o historiador possui todas as responsabilidades perante uma educação de qualidade, muito mais libertária e inteligente, do que conteúdista e disciplinadora. Michel Serres em seu livro “Variações sobre o corpo” dizia que: “Um ensino que coloca os alunos diante de mestres medíocres conduz à escravidão e à interdição da liberdade de pensar por si mesmo.” Ou seja, o grande trunfo do educador é estimular nos estudantes, o pensamento e a capacidade de reagir perante as incertezas do mundo contemporâneo.
No entanto, essa proposta educativa não será possível se o historiador não estiver imbuído do espírito da leitura e da escrita. Ele estará sendo falso, mentindo para os estudantes e para si mesmo, exigindo leitura e escrita de seus alunos, sendo que ele próprio não a prática. O professor de História precisa citar livros, nomes de autores, produzir textos a partir de suas próprias pesquisas. Essa prática certamente irá estimular os alunos, alimentará a auto-estima e a confiança do professor, além de tornar a atividade profissional dinâmica e empolgante.
Doravante, aliado ao comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, o historiador precisa estar imbuído de ética profissional, porque ele traz à tona valores culturais, interesses, desavenças, intrigas, sonhos e ilusões que ocorreram em algum lugar do passado, mas que podem ser perigosos e comprometedores no presente. Sempre acreditei que os físicos tinham responsabilidade pelos danos causados pelas bombas atômicas, como afirma Fritjof Capra no livro “O ponto de mutação”. Mas e o historiador, ao compreender e publicar fatos passados também não é capaz de gerar danos na sociedade. Quantas guerras religiosas ou políticas não foram motivadas por manuscritos de historiadores? Como disse Hobsbawm em seu livro “Sobre História”: “Nessa situação os historiadores se vêem no inesperado papel de atores políticos. Essa situação nos afeta de dois modos. Temos uma responsabilidade pelos fatos históricos em geral e pela crítica do abuso político e ideológico da história em particular.”
Quando falamos que a determinada região foi colonizada predominantemente por alemães não estamos destituindo demais personagens históricos e estimulando preconceitos? Afirmar que o caso Safrita, em Itapiranga-SC, foi um “roubo” dos comerciantes perante os camponeses não é remexer em “feridas abertas” do passado? Condenar a Igreja Católica pelo seu passado não é estimular o abandono dos fiéis da mesma?
Temos sim uma responsabilidade social! Precisamos ter consciência das palavras que utilizamos para compreender o passado. Analisar os fatos históricos remete comprometimento, responsabilidade e ética. “Infelizmente, como demonstra a situação em áreas enormes do mundo no final de nosso milênio, a história ruim não é história inofensiva. Ela é perigosa. As frases digitadas em teclados aparentemente inócuos podem ser sentenças de morte” Eric Hobsbawm

Livro Sobre História, de Eric Hobsbawm

2 comentários:

Daniel Giandoso disse...

Genial Douglas!
É uma grande responsabilidade ser professor de história. As vezes, me chega a dar medo. Uma palavras mal colocada destrói pessoas... Isso já aconteceu comigo e não consegui reparar...
Uma vez disse a uma amiga que estudava enfermagem que ela podia salvar uma vida e eu podia destruir uma alma. É necessário muito cuidado!

Quanto aos filhos, bom sempre fui anti social, jamais me casaria e não teria filhos. E esta foi uma das formas de Deus me salvar de mim mesmo e não ficar apenas vivendo p/ mim ou fazendo apenas o q quero . agora n consigo te escrever pqo Bernardo chora no meu colo. os medos estão presentes e quando vencidos vão sendo substituidos por outros... O que importa mesmo é ver o que Deus fala aí no coração de vocês dois.
Abracos, Daniel

DoUgLaS BaRrAqUi disse...

ola Meu carissimo chara. Concordo em todos os pontos e "i" com voçe?
o historiador tem quecumprir sua função, tornando-se o verdadeiro intelectual orgânico gramsciano e não somente limitar-se da forma específica do conhecimento, que busca uma compreensão do passado que aconteceu, como disse Gaddis:"como disse, o que aconteceu não pode ser alterado". A História até pode ser buscada quando queremos uma explicação para algo no presente. Esse é o passado prático, como afirma o historiador Michael Oakeshott.
por fim a História cumpre seu papel que é o de fazer do historiador um intelectual.
então que nos historiadores cumpramos o nosso papel para com ela...

seu blog já esta nos meus favoritos:
http://www.dougnahistoria.blogspot.com/
um grande e forte abraço do amigo e Também historiador e também Douglas.