terça-feira, 24 de março de 2009

Sobre democracia....

Vivemos numa democracia, e como tal, temos uma nação governada pelas vontades e anseios da maioria. Mas até que ponto a maioria tem a razão? Será que a vontade do povo é a vontade correta para o futuro de uma nação? Será que a democracia é sábia ou é ingênua, alienada ou ignorante?
Difícil tirar uma conclusão, partindo do pressuposto de que a grande maioria da população deste país declara abertamente de que não gosta ou não se interessa pela política. Como acreditar que a democracia é justa quando o voto democrático representa, conforme a realidade apontada, os desejos de uma massa que não possui uma consciência definitiva sobre o que é certo ou errado em termos de política para a nação brasileira? Há um projeto de país? O povo brasileiro tem um projeto de país?
Já dizia Boris Casoy: “o maior castigo para aqueles que dizem não gostar de política, é a sentença de que serão governados por aqueles que se interessam.” Talvez seja como aquele poema: de tanto ver triunfar as maldades, a desonra e o roubo, o cidadão brasileiro desiste de suas virtudes, e passa a ter vergonha de ser honesto.
O problema da democracia neste país é que ela está submissa a uma gama de fatores tais como, a fome, a miséria, o assistencialismo, o coronelismo, a falta de consciência, de responsabilidade.
A democracia no Brasil se encontra endêmica, afetada por “pestes” que ameaçam a sua integridade e muitas vezes a tornam fraca. Mas como a nação brasileira se trata de um organismo vivo, pode se adaptar a esses males, criar mecanismo de resistência. Qual a cura para as mazelas da democracia no Brasil? Talvez educação. Mas é preciso muito mais do que isso. Educação para a política não se faz simplesmente com escolas, se faz com uma sociedade comprometida com um projeto de país. Faltam sonhos para o povo brasileiro.

E o povo brasileiro, que dorme em berço esplêndido, percebe que seu sonho pode virar um pesadelo. Isso pode acontecer quando não se presta atenção nas mãos que balançam o berço.

segunda-feira, 16 de março de 2009

COLUNA CONVERSA DE PROFESSOR

Reportagem da Revista Veja do dia 4 de Março, novamente jogou um balde de água fria na empolgação referente ao projeto de lei federal que regulamenta o sistema de cotas raciais nas universidades federais. O projeto “exige mais atenção do que a justeza da causa sugere: ele pode ser igualmente ruinoso para os negros e brancos brasileiros”, concluiu a revista.

As instituições federais seriam obrigadas a garantir 50% de suas vagas para alunos vindos de escolas públicas, dentre estes, negros, pardos e índios serão os principais beneficiados. “O projeto visa a ampliar a presença desses grupos étnicos e raciais no ensino superior. O objetivo é justo.” Conforme o projeto estas raças seriam as mais prejudicadas historicamente na sociedade brasileira.

A primeira questão polêmica que a Revista Veja reflete é se o papel das universidades federais deve passar a ser o de reparar injustiças históricas. “As universidades existiram desde sempre para produzir conhecimento. A produção de conhecimento de qualidade só é possível em ambientes de porta de entrada estreita e com rígido regime de mérito.” Se o projeto foi aprovado, metade dos que ingressarão nas universidades federais terão como passaporte de entrada o vago e cientificamente desacreditado conceito de raça.

“Adeus ao mérito individual. Com ele se despedem também a produção de conhecimento e o avanço acadêmico. Deve haver formas menos destruidoras de reparar injustiças históricas”, concluiu a Veja. Conforme a revista, a contaminação ideológica é o ponto fraco do projeto. “Por qual critério se chegou ao percentual de 50% das vagas das universidades federais para cotistas?”

“Algumas das maiores e mais vergonhosas tragédias da história foram plantadas, cultivadas e colhidas pelo ódio racial produzido por políticas públicas racistas – a escravidão, o holocausto o apartheid. È ingênuo pensar que o progresso social se acelera quando o estado inverte o sinal de modo que um grupo racial historicamente derrotado possa, finalmente, triunfar sobre seus algozes. Isso produz mais ódio.”

Conforme a Veja, as cotas não resolvem as desigualdades sociais. Os defensores das cotas dizem que está na hora do Brasil reconhecer a dívida histórica com os descendentes de escravos. Sabemos que na história do Brasil muitos negros conseguiram sua alforria, e em seguida, acabaram se tornando donos de outros escravos, como é o caso de Chica da Silva, por exemplo. E se um descendente de Chica da Silva for injustamente beneficiado com as cotas raciais?

Particularmente, eu sou descendente de brancos. Meus avós vieram da Romênia e Alemanha, eram extremamente pobres, ou seja, assim como os negros e índios, discriminados econômica e socialmente. No entanto, se eu fosse candidato a uma vaga na universidade, seria discriminado em relação aos negros, tendo nós dois inclusive, um passado idêntico. Engana-se quem acredita que meus avós possuíam a liberdade de trabalhar, diferentemente dos negros, que viveram na escravidão. Já passa mais de um século do fim da escravidão no Brasil, ou seja, em termos de trabalho, nossos avós, tanto brancos como negros, possuíam uma liberdade de trabalho.

Mas a conclusão que mais chamou a minha atenção na reportagem da Revista Veja, foi a de que “o verdadeiro problema da educação brasileira é o ensino básico. As vagas destinadas a negros, índios e pardos teriam vantagens sobre aqueles “rejeitados pelo simples fato de terem nascido brancos e de pais que suaram a camisa para galgar um degrau mais alto da pirâmide social brasileira. Os efeitos de longo prazo dessa injustiça são ruinosos. Ela pune o esforço o individual e cria uma casta de profissionais das cotas.”

Como se pode ver no Brasil as políticas públicas, tanto na educação, na saúde e segurança púbica servem para tampar buracos, fazer remendos. Nada muito sério. Para quem trabalha em escolas públicas percebe o quanto se dissemina o aluno “bolsa família”, ou seja, aquele que será beneficiado unicamente por uma política de estado. Está na hora de beneficiarmos o esforço individual da mesma forma como se busca corrigir injustiças históricas.

terça-feira, 3 de março de 2009

CONVERSA DE PROFESSOR

Em Manaus uma professora foi afastada por ser acusada de colocar fita adesiva na boca de duas crianças. Conforme a Secretaria de Educação de Manaus, essa atitude da professora pode ser explicada pelo stress ou depressão. Não sei qual o objetivo da professora em tomar tal atitude, se era para calar os alunos, ou humilhá-los perante os colegas. Convenhamos que foi uma atitude impensada, e sejamos francos, pouco inteligente.

Mas, no entanto, temos de considerar o estado emocional a que os professores estão expostos em sala de aula, principalmente quando levamos em consideração a situação da lotação das salas e do comportamento medíocre de muitos alunos na escola. Para quem é professor entende do que estou falando: em algumas situações chegamos a pontos extremos que, se não houvesse um controle emocional por parte do professor a reação poderia ser muito pior do que simplesmente calar os alunos com fita adesiva.

É de conhecimento de todos que nos últimos anos o papel do professor na sociedade sofreu profundas alterações. Passamos de uma personalidade ativa na comunidade, aquele típico professor comunitário, vinculado ao caráter colonizador, para um agente pouco reconhecido, desvalorizado, desrespeitado e pouco influente.

Convenhamos que muito disso também é culpa do próprio professor, pois ele, em muitos casos, não consegue se impor em sala de aula, tanto pelo conhecimento como pela didática. O professor respeitado em sala de aula é requisito básico para o respeito fora da escola. Ao longo de minha vida estudantil tive professores que impunham autoridade porque tinham conhecimento, porque tinham talento e carisma. Infelizmente no magistério temos figuras que, por não desejarem trabalhar como operários, escolheram se aventurar numa sala de aula.

No entanto aponto outro fator preponderante para a desvalorização do professor. Temos uma sociedade que de maneira geral, não dá o devido valor para a educação. Se não damos o devido valor para a educação, acabamos por desrespeitar todo o sistema vinculado à ela, desde o edifício da escola à figura do professor.

O que faz com que os alunos venham para a escola com a total falta de senso sobre respeito ao próximo, à disciplina e às regras institucionais? Alerto para o problema familiar, pois, muitos alunos recebem uma educação errada de seus pais. Na minha infância apanhei muito de meus pais, de vara mesmo, e hoje sou realmente grato a eles por isso. Não quero ser moralizador e disciplinador, mas percebo que hoje se fala muito em direitos da criança e do adolescente, e se esquece dos seus deveres.

Lembro que na escola que cursei a educação básica tive professores rígidos. Ainda vivenciei aquela época em que os alunos indisciplinados apanhavam com a régua. Será que algum deles guardou algum trauma? Talvez sim, mas temos de destacar que esta educação tradicional, a popular “pedagogia da vara”, tinha algo de realmente bom, que era a disciplina.

Professores que têm talento e conhecimento não precisam fazer uso de fita adesiva para calar seus alunos, ele os silencia com suas palavras, sua autoridade e simpatia.