Reportagem da Revista Veja do dia 4 de Março, novamente jogou um balde de água fria na empolgação referente ao projeto de lei federal que regulamenta o sistema de cotas raciais nas universidades federais. O projeto “exige mais atenção do que a justeza da causa sugere: ele pode ser igualmente ruinoso para os negros e brancos brasileiros”, concluiu a revista.
As instituições federais seriam obrigadas a garantir 50% de suas vagas para alunos vindos de escolas públicas, dentre estes, negros, pardos e índios serão os principais beneficiados. “O projeto visa a ampliar a presença desses grupos étnicos e raciais no ensino superior. O objetivo é justo.” Conforme o projeto estas raças seriam as mais prejudicadas historicamente na sociedade brasileira.
A primeira questão polêmica que a Revista Veja reflete é se o papel das universidades federais deve passar a ser o de reparar injustiças históricas. “As universidades existiram desde sempre para produzir conhecimento. A produção de conhecimento de qualidade só é possível em ambientes de porta de entrada estreita e com rígido regime de mérito.” Se o projeto foi aprovado, metade dos que ingressarão nas universidades federais terão como passaporte de entrada o vago e cientificamente desacreditado conceito de raça.
“Adeus ao mérito individual. Com ele se despedem também a produção de conhecimento e o avanço acadêmico. Deve haver formas menos destruidoras de reparar injustiças históricas”, concluiu a Veja. Conforme a revista, a contaminação ideológica é o ponto fraco do projeto. “Por qual critério se chegou ao percentual de 50% das vagas das universidades federais para cotistas?”
“Algumas das maiores e mais vergonhosas tragédias da história foram plantadas, cultivadas e colhidas pelo ódio racial produzido por políticas públicas racistas – a escravidão, o holocausto o apartheid. È ingênuo pensar que o progresso social se acelera quando o estado inverte o sinal de modo que um grupo racial historicamente derrotado possa, finalmente, triunfar sobre seus algozes. Isso produz mais ódio.”
Conforme a Veja, as cotas não resolvem as desigualdades sociais. Os defensores das cotas dizem que está na hora do Brasil reconhecer a dívida histórica com os descendentes de escravos. Sabemos que na história do Brasil muitos negros conseguiram sua alforria, e em seguida, acabaram se tornando donos de outros escravos, como é o caso de Chica da Silva, por exemplo. E se um descendente de Chica da Silva for injustamente beneficiado com as cotas raciais?
Particularmente, eu sou descendente de brancos. Meus avós vieram da Romênia e Alemanha, eram extremamente pobres, ou seja, assim como os negros e índios, discriminados econômica e socialmente. No entanto, se eu fosse candidato a uma vaga na universidade, seria discriminado em relação aos negros, tendo nós dois inclusive, um passado idêntico. Engana-se quem acredita que meus avós possuíam a liberdade de trabalhar, diferentemente dos negros, que viveram na escravidão. Já passa mais de um século do fim da escravidão no Brasil, ou seja, em termos de trabalho, nossos avós, tanto brancos como negros, possuíam uma liberdade de trabalho.
Mas a conclusão que mais chamou a minha atenção na reportagem da Revista Veja, foi a de que “o verdadeiro problema da educação brasileira é o ensino básico. As vagas destinadas a negros, índios e pardos teriam vantagens sobre aqueles “rejeitados pelo simples fato de terem nascido brancos e de pais que suaram a camisa para galgar um degrau mais alto da pirâmide social brasileira. Os efeitos de longo prazo dessa injustiça são ruinosos. Ela pune o esforço o individual e cria uma casta de profissionais das cotas.”
Como se pode ver no Brasil as políticas públicas, tanto na educação, na saúde e segurança púbica servem para tampar buracos, fazer remendos. Nada muito sério. Para quem trabalha em escolas públicas percebe o quanto se dissemina o aluno “bolsa família”, ou seja, aquele que será beneficiado unicamente por uma política de estado. Está na hora de beneficiarmos o esforço individual da mesma forma como se busca corrigir injustiças históricas.
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