quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Quando Maria foi ao baile...

Maria estava com seus dezesseis anos completados, já tinha personalidade para acompanhar seus irmãos aos bailes. Depois de longos anos servindo como anjo da guarda, era chegada a hora de ultrapassar as barreiras da vida. A sua experiência como anjo da guarda rendeu uma série de curiosidades, não que ela tivesse visto algo de extraordinário no namoro de sua irmã com seu namorado, afinal de contas, grande parte do tempo ficou distante, comprada por um doce. Mas Maria estava curiosa porque ouvia de sua irmã fatos que transcorriam durante o namoro. Como era possível duas pessoas fazer tais coisas? Imaginava ela.
No dia do baile teve de ouvir sérias recomendações de sua mãe, sobre o que poderia ou não ser feito, e o que deixava ela realmente surpresa, é o fato de que sua irmã contava justamente o contrário. Neste momento Maria teve uma lição importante na sua vida. Existiam dois mundos em Porto Novo: aquele que as pessoas idealizavam existir, baseado nos valores morais passados de geração em geração, e aquele mundo paralelo da vida, muitas vezes escondido, que acontecia no escuro, nos “porões da alma”, que era condenado pela sociedade, mas também praticado por ela. Esta situação deixava Maria realmente curiosa.
No dia do baile havia um entusiasmo em todos, afinal de contas era a oportunidade de sair de casa. Maria foi ao baile com seus irmãos e alguns vizinhos. Já não estava mais incumbida de ser anjo da guarda, agora estava na condição de independente. Chegando ao salão, a movimentação era grande, as pessoas realmente freqüentavam os bailes na década de 1950. A animação da banda era evidente, mas o volume era muito baixo, o que muitas vezes dificultava aos casais de se manterem no ritmo. Algumas vezes a música já tinha acabado e alguns casais continuavam a dançar.
As mulheres sempre tinham que estar vestidas prudentemente, nenhuma roupa que demonstrasse excessivamente o corpo. Naquele baile a comissão de ordem (Ordnungskommission) teve que entrar em ação para expulsar uma jovem que havia usado trajes que feriam os padrões da época. As garotas ousavam, as vezes, muito mais do que os homens.
A certa altura do baile fato inusitado assustou a estreante Maria. Um jovem rapaz convidou uma de suas irmãs para uma dança, e ela prontamente negou. Tal atitude deu ao jovem a autoridade para desferir-lhe um violento tapa. Na época os homens tinham o direito de reprimir as moças que recusavam o convite a uma dança, direito que lhes era garantido pelo fato de que elas não precisavam pagar ingresso no baile. Maria achou aquilo um cúmulo, mas suas irmãs logo a instruíram de que era o costume, e costumes não se contesta.
As mulheres dificilmente consumiam cerveja. Aliás, poucos jovens tinham dinheiro para gastar com cerveja. Durante o baile se consumia cuca, salame, e uma cerveja que se fazia questão que durasse o maior tempo possível, mesmo que fosse quente.
Até certo da altura do baile era permitido que as moças pudessem dançar entre si, mas a certo altura era dado o sinal de que isso não era mais permitido, era a hora da paquera. Em poucos momentos era permitido que as mulheres tirassem os homens para dançar (Damentur), fato que era encarado como vulgar, mas que acontecia. Geralmente as mulheres sem namorado se posicionavam num canto reservado (Mädesck). Naquela noite Maria foi convidada duas vezes para dançar, porque ainda era muito nova, ainda não estava na idade de casar. Voltou para casa com mais dúvidas do que respostas. Sabia que para conhecer a vida fora dos padrões morais, era necessário ousar e ter certa dose de coragem.

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