Esta é a história de um homem, Eusébio, criado na roça no meio do nada. Uma história surpreendente, que parece irreal, mas que aconteceu no passado desta terra chamada Porto Novo. Uma história que parece ter sido única, mas que se confunde com a vivência de muitos homens criados neste rincão.
Eusébio era definitivamente um cara estranho. Não que ele tivesse tido alguma anormalidade física, muito pelo contrário, seu corpo era sadio, forte e rude pelo trabalho pesado e pela alimentação saudável da época. Eusébio era um cara estranho porque era pouco sociável e tímido, preferia ficar em casa, na companhia dos animais, do que sair e se relacionar socialmente. Aliás, os animais da propriedade significavam tanto para Eusébio, que a eles deu até mesmo nomes, e conversava com eles como se fossem íntimos. Até os seus seis anos de idade, antes de freqüentar a escola, Eusébio não teve qualquer contato com a sociedade, vivia entre os animais da propriedade, acreditando muitas vezes ser um deles.
Assim havia o cachorro Xole, companheiro de caça; a junta de bois, Vermelho e Valente, companheiros de trabalho; Campeão, o galo de rinha; e a vara de porcos, cada um com seu nome. Com as vacas e as galinhas Eusébio não tinha um relacionamento direto, porque isso era obrigação das moças da casa.
Em relação aos porcos é preciso destacar que Eusébio cometeu um dos pecados mais terríveis do catolicismo. Pelo fato de ser pouco sociável teve um caso de amor com uma porca, a Princesa. Sim caro leitor, o que chamamos atualmente de bestialidades, fora cometido não poucas vezes na colônia Porto Novo. Porcas, bezerras, novilhas e cadelas, foram muitas vezes objetos de desejo sexual de jovens como Eusébio.
Este caso de amor entre Eusébio e Princesa, a porca, durou até o dia em que foram flagrados pelo pai de Eusébio. A reação foi de horror, como eles ousaram cometer este pecado? É claro que naquele dia Eusébio apanhou muito, e a porca também. Der hat der Eusébio geschwot und die Sau auch. Dan sagt der man: “Du solst noch einmahl schweinerei machen! Jetz hats geschegt.” Uma semana depois a porca Princesa virou salame.
A partir daquele dia Eusébio não era mais responsável por tratar os porcos, função que passou a ser exercida pelo irmão, que já estava de sobreaviso. A surra de cinta desferida pelo pai em Eusébio e na pobre porca Princesa deixou todos assustados.
A propriedade da família de Eusébio era isolada e distante da civilização, no meio do nada, literalmente. Esporadicamente a família recebia alguma visita, fato que deixava as crianças assustadas e tímidas tanto que se escondiam no galpão e no sótão. O filho mais velho já freqüentava os bailes e já participava das atividades comunitárias. Mas Eusébio e seus outros sete irmãos eram pouco sociáveis.
Sentiam-se a vontade quando estavam em meio aos animais da propriedade. Seus corpos cheios de feridas e bicho-de-pés denunciavam a pouca higiene da família. Banhos evidentemente, só ocorriam no riacho ou ao sábado, reduzidos ainda mais em épocas de inverno.
A socialização das crianças acontecia a partir do momento em que freqüentavam a escola. Aliás, Eusébio e seus irmãos eram péssimos alunos. Sempre sujos e infestados de piolhos, os cadernos igualmente mal cuidados, demonstravam que aquela família era definitivamente anti-sociável. Como eles havia várias outras crianças, que cresceram reprimidos pela timidez, suas histórias são mantidas à surdina, varridos para baixo do tapete, não são um modelo de alemão idealizado para Porto Novo, mas são parte de sua história.
Geralmente esta situação de isolamento social ia se dissolvendo com o passar dos tempos, conforme o contato social evoluía. No entanto, muitos homens e mulheres jamais tiveram uma paixão, um relacionamento, um casamento, porque justamente cresceram com medo. No caso de nosso amigo Eusébio, ir ao baile poderia ter significado um avanço, mas foi um desastre que veremos na próxima semana.
Os fatos presentes nesta crônica são reais, apesar de os nomes dos personagens serem inventados, inclusive o da porca.
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Parabens pelo BLOG e postagens
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