segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Sugestão de leitura


Minha namorada me dá presentes, e no nosso relacionamento, cada um escolhe seus presentes. Ela sabe que quero livros, então escolhi. Escolhi "A menina que roubava livros", de Markus Zusak. Confesso que fui influenciado pelos mais vendidos da revista Época, mas o nome chamou muito a minha atenção. Aliás o nome vende o livro, precisa vender. Li então, nas férias, 477 páginas. Incrível. Uma história envolvente. O escritor precisa saber escolher os personagens e o espaço em que ocorre a história. Zusak foi genial. Imagine, quando a Morte decide narrar a história de uma menina que roubava livros, na Segunda Guerra Mundial, em plena Alemanha nazista. "Carregaria uma mala, um livro e duas perguntas. Uma história. Uma história depois da história. Uma história dentro da história..." Leia esse livro, é bom!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Eu e o Poder

Eu e o Poder vivemos juntos. Ele está sobre mim assim como eu estou com ele. É claro, tenho de assumir que, ele, está muito mais sobre mim do que eu com ele. Mas aceito essa disparidade, até porque, os poucos momentos em que estou com ele, me glorificam, alimentam meu ego, ao ponto de acatar e me subordinar aos seus desejos, seus mandos e desmandos.

Ah! Sim. Esqueci de dizer que o Poder tem um temperamento difícil, mas o meu desejo de estar com ele é imenso. Quando estou com o Poder me sinto mais forte. Consigo subordinar outras pessoas. Com o tempo você aprende que estar com o Poder é glorificante. Mesmo que na maior parte da sua vida, ele, o Poder, está muito mais sobre você do que com você.

O Poder é uma figura muito misteriosa. Todos sabem que ele existe, mas poucos sabem como conquistá-lo. Aliás, alguns nem o conquistam, o recebem de gratificação, através de um cargo partidário, ou adotando a tática do “puxa-saquismo”.

O Poder está no ar, ele se dissimula em várias pessoas, mas não tem face. Constrói uma teia de relações entre as pessoas, algo semelhante a barras de ferro, só mais elásticas, mas não menos reais. Às vezes penso que o Poder está na figura de meu patrão, mas quando paro para pensar, percebo que ele está muito mais em mim, porque alimento relações de poder muito mais intensas com os meus subordinados. Descarrego toda minha subordinação ao Poder em outras pessoas, nem que sejam meus filhos, meus alunos, meu vizinho, minha esposa. Alimento essa figura chamada Poder, desejo estar com ele constantemente.

Se você credita não ter nenhum tipo de relação com o Poder, pense no seu cotidiano. Ele está contigo, na verdade, muito mais sobre você, em qualquer tipo de relação social que você exerça. Ele está no olhar vigilante do policial ou do patrão. Está nas regras morais conservadoras. Ele ameaça a tua liberdade, fazendo acreditar que você a tenha. Eu sou o Poder, você é o Poder, nós somos o Poder. Sofremos com ele e por ele. O desejamos, o alimentamos, o multiplicamos. Eu e o Poder. Você e o Poder?

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O papel social do historiador

Costumeiramente credenciamos características próprias de determinado profissional quanto a sua conduta e responsabilidade social. Como profissional da História, quero estabelecer um debate acerca de aspectos que considero essenciais para o historiador: o comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, e a ética na compreensão de fatos históricos.
Como educador, o historiador possui todas as responsabilidades perante uma educação de qualidade, muito mais libertária e inteligente, do que conteúdista e disciplinadora. Michel Serres em seu livro “Variações sobre o corpo” dizia que: “Um ensino que coloca os alunos diante de mestres medíocres conduz à escravidão e à interdição da liberdade de pensar por si mesmo.” Ou seja, o grande trunfo do educador é estimular nos estudantes, o pensamento e a capacidade de reagir perante as incertezas do mundo contemporâneo.
No entanto, essa proposta educativa não será possível se o historiador não estiver imbuído do espírito da leitura e da escrita. Ele estará sendo falso, mentindo para os estudantes e para si mesmo, exigindo leitura e escrita de seus alunos, sendo que ele próprio não a prática. O professor de História precisa citar livros, nomes de autores, produzir textos a partir de suas próprias pesquisas. Essa prática certamente irá estimular os alunos, alimentará a auto-estima e a confiança do professor, além de tornar a atividade profissional dinâmica e empolgante.
Doravante, aliado ao comprometimento com a educação, a leitura e a escrita, o historiador precisa estar imbuído de ética profissional, porque ele traz à tona valores culturais, interesses, desavenças, intrigas, sonhos e ilusões que ocorreram em algum lugar do passado, mas que podem ser perigosos e comprometedores no presente. Sempre acreditei que os físicos tinham responsabilidade pelos danos causados pelas bombas atômicas, como afirma Fritjof Capra no livro “O ponto de mutação”. Mas e o historiador, ao compreender e publicar fatos passados também não é capaz de gerar danos na sociedade. Quantas guerras religiosas ou políticas não foram motivadas por manuscritos de historiadores? Como disse Hobsbawm em seu livro “Sobre História”: “Nessa situação os historiadores se vêem no inesperado papel de atores políticos. Essa situação nos afeta de dois modos. Temos uma responsabilidade pelos fatos históricos em geral e pela crítica do abuso político e ideológico da história em particular.”
Quando falamos que a determinada região foi colonizada predominantemente por alemães não estamos destituindo demais personagens históricos e estimulando preconceitos? Afirmar que o caso Safrita, em Itapiranga-SC, foi um “roubo” dos comerciantes perante os camponeses não é remexer em “feridas abertas” do passado? Condenar a Igreja Católica pelo seu passado não é estimular o abandono dos fiéis da mesma?
Temos sim uma responsabilidade social! Precisamos ter consciência das palavras que utilizamos para compreender o passado. Analisar os fatos históricos remete comprometimento, responsabilidade e ética. “Infelizmente, como demonstra a situação em áreas enormes do mundo no final de nosso milênio, a história ruim não é história inofensiva. Ela é perigosa. As frases digitadas em teclados aparentemente inócuos podem ser sentenças de morte” Eric Hobsbawm

Livro Sobre História, de Eric Hobsbawm