segunda-feira, 27 de abril de 2009

Histórias do velho oeste: o dia em que pastel de tigre virou herói

Esta é mais uma daquelas histórias típicas do velho oeste. Fatos que viraram lenda na boca povo. Episódios pitorescos, amedrontadores, casuais, trágicos, que de tão anormais beiram ao ridículo ou ao improvável. Histórias de um povo, como esta do dia em que um cão franzino enfrentou um tigre.
Alberto era um caçador da fronteira, possuía um aparato completo para adentrar ilegalmente na mata da Argentina, e com seu grupo de amigos, divertir-se e arriscar-se na caça de animais silvestres. No entanto, nos últimos dias, Alberto e seus amigos vinham enfrentando um grave problema: a ameaça de um tigre. Sim, acreditavam ser um tigre que uivava na madrugada e matava os cães de caça do grupo. Estavam enganados, pois se tratava na verdade de uma onça, pois sabemos que em nossas matas jamais existiram tigres.
O grupo estava decidido a encontrar uma maneira de acabar com a ameaça da onça malvada, que buscava no seu mais natural instinto, garantir a sua sobrevivência. A decisão de acabar com o tal tigre foi tomada no dia em que ele matou o cão mais hábil do grupo de caçadores, o “Chole”, magrelo, mas que tinha uma destreza capaz de liquidar com porcos do mato e com cobras das mais venenosas. Era necessário achar uma forma de reparar essa perda, e a forma encontrada foi acabar com o tigre.
Decidiram armar uma armadilha, ein Fahl, feita a base de espingardas, que consistia numa isca capaz de chamar a atenção da presa, que adentrando na armadilha acionava o gatilho das espingardas. Dispuseram todas as espingardas na forma que todas elas convergissem para o centro, e com cordas condicionaram a armadilha perfeita. Se o tigre esbarrasse em alguma destas cordas, seus dias estavam contados. Mas o grande problema foi achar uma isca, pois naquele dia não conseguiram capturar nenhum animal para tal, vendo que estavam mata adentro, longe da fronteira, a beira do Rio Jabuti.
Alberto sabia que no grupo de cães havia um que, de tão magro era possível se fazer um raio-X com um foque. Ele possuía um valor muito mais sentimental do que prático, era muito fraco para ser um cão caçador em potencial.
Estava tomada a decisão, a noite se aproximava e era preciso armar a armadilha e partir, pois havia o perigo de uma chuva que se aproximava. Alberto amarrou seu pequeno cão, que de tão desprezível, nem nome tinha. Partiram com a certeza de que conseguiriam matar o tigre, e partiram também convictos de que a perda daquele pequeno cão não significaria nada para o grupo.
Durante a noite ocorreu uma chuva torrencial, e todas as armas Salon falharam, menos uma, de fabricação caseira, que acabou dando o tiro fatal no tigre. O pequeno cão, de tão amedrontado, havia se enrolado na corda que o amarrava, e se demorasse ainda pouco mais, acabaria morrendo sufocado.
Quando os caçadores retornaram no dia seguinte, encontraram o improvável. O cão franzino, feliz de ver novamente seu dono, e o tigre morto, com um tiro no pescoço. Todas as armas falhadas pela pólvora molhada, e somente a arma de Alfredo descarregada com um tiro certeiro.
Todos os caçadores comemoram com tiros e garrafas de cachaça que carregavam nas sacolas. Somente Alfredo olhava aquela cena, quieto, mas muito orgulhoso. “Der kleine Hunt, woh keine getankt hat, hot uns geret”, pensou ele.
– A partir de hoje - declarou Alfredo - este pobre cão merecerá um tratamento especial, vou eu mesmo tirar todas as bernes que o enfraquecem, e ele será meu companheiro fiel, o pastel de tigre, o cão que virou um herói.
Esta é mais uma daquelas histórias de caçador, típicas do homem de fronteira. É uma história do nosso velho oeste. Verdade ou não, o leitor que decida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Aprender com os viajantes

Causou grande impacto entre os leitores do Jornal Expressão, o espaço “filhos de nossa terra” da semana passada que publicou a entrevista do jovem Edson Walker. O filho de nossa terra atualmente viaja pela Nova Zelândia, buscando conhecer outras formas de ver o mundo. Entre seus caminhos já percorridos, além da Nova Zelândia, está a missão voluntária na África e a viajem de bicicleta pelo Nordeste brasileiro com um amigo japonês e dois americanos. Ele não quis revelar publicamente, mas nos informou que seu próximo destino deve ser a Índia.
Muitas pessoas ficaram maravilhadas com o espírito de liberdade expresso nas palavras do jovem Edson Walker, tendo inclusive, muitas manifestações de novos aventureiros dispostos a seguir o mesmo caminho.
Mas o que é esse sentimento que se manifesta nas pessoas? Essa vontade de largar tudo: emprego, família, faculdade, amigos, para se entregar ao mundo numa viagem sem destino e sem limitações? Esse desejo de viajar sem compromisso a lugares inóspitos não é alimentado somente pelo desejo de conhecer novos lugares e novas pessoas. É alimentado sim, principalmente pelo desejo de se desprender da vida material do cotidiano, de uma situação de desconforto causada pelas responsabilidades da vida, como o trabalho e o compromisso com a família. É alimentado também pelo desejo de buscar uma identidade, uma perspectiva de vida que a família, a escola e o trabalho ainda não foram capazes de fornecer.
Mas essa tarefa a que muitas pessoas estão se dedicando neste momento não é uma tarefa para qualquer pessoa. Acompanho muito estes viajantes, leio histórias sobre eles, e algumas coisas todos eles têm em comum. É preciso estar desapegado de objetos materiais, estar aberto para novas experiências, saber controlar o medo, estar disposto a novas relações e possuir a capacidade de se adaptar constantemente a novos padrões de vida. Ou seja, é necessário ser uma pessoa receptiva para novas experiências.
Estas situações vivenciadas por estes viajantes deve ser uma lição para nós, que vivemos presos ao trabalho e à família, e escolhemos estar preso a isso porque queremos isso, queremos uma estabilidade, uma garantia de conforto. Os viajantes solitários nos ensinam de que jamais devemos deixar de aprender, de valorizar outras visões de mundo, de ser tolerante. Para aqueles que pensam que já estudaram o bastante, o viajante nos ensina de que, por mais que nosso currículo seja extenso, há sempre algo que não conhecemos e não dominamos, e que, a qualquer momento este algo desconhecido fará parte de nossa vida profissional, e devemos estar dispostos a enfrentá-lo.
Aprendi com o Edson de que é necessário estar distante para começarmos a valorizar o que temos. É preciso estar distante da família para sentir saudades e valorizá-la. É preciso sair da escola para valorizar os ensinamentos dos professores.

Incomoda-me ver...
Que a estabilidade faz com que as pessoas pensem que a plenitude da vida já foi atingida. Geralmente as pessoas morrem já com trinta e poucos anos, mas são enterradas somente com sessenta.

Alguém já dizia...
“Acho que quanto mais eu viajo, mais eu valorizo o fato de ter crescido no interior, de ter tido professores dedicados e de pertencer a uma família que sempre me deu apoio e me deixou livre para seguir meus sonhos.” Edson Walker

Para quem quiser saber mais
Viajem de volta ao mundo numa bicicleta


Página de fotos de Edson Walker